Diário 97

 

SEGUNDA FEIRA, 9 DEZEMBRO 1996, 2300h., tempo ótimo.

Como se vê, grandes novidades: novo processador de textos, nova maneira de datar, novo título.

Tudo novo menos  o autor que segue inexoravelmente o caminho do tempo que, como é do seu natural, fugit.

Os registros referentes a 96 já se encontram em processo de impressão; deram um trabalhão mas creio que serão bons.

Fim de semana com vários acontecimentos que fugiram à rotina.

Sexta feira não houve jogo, sábado fomos a uma festa do Pablo mas não conseguimos participar porque furou um pneu num buraco do Tarso e como chovia desbragadamente, acabamos pôr regressar à casa, molhados como pintos, sem adentrarmos ao recinto no João XXIII onde os jovens atores praticavam nas artes de Orfeu e Terpsicore.

Domingo, aceitamos convite do Pinho para um churrasquinho e de tarde fomos ao aniversário da Saara.

O Grêmio empatou com o Goiás e foi para as finais; como eu disse, o campeonato acabou no jogo com o Palmeiras.

Hoje  o dia foi normal com os guris da Isinha indo e vindo para a lojinha do Grêmio, Iguatemi etc.

Parece-me que Heloísa já fez todas as compras de Natal.

Dr. Barrios pelo Uruguai e cada um com seus afazeres.

Agora há pouco as gringas vieram jogar mas o genro da Adelina chamou-a para atender a filha que estava com queda de pressão, supõe-se.

Amanhã irei ao fórum e ao escritório porque há algumas coisas pôr fazer e quero ver se entro o ano sem maiores penduricalhos jurídicos.

Esta semana, em sendo tudo normal, iremos ao Imbé onde pretendo fazer primeira limpeza da piscina.

Virgínia e Paulo foram no fim de semana e encontraram tudo em ordem.

Pingo informou hoje que fazem duas semanas que não fala com a Raquel o que me parece um exagero porque no fim de semana passado andava às voltas com ela; de qualquer forma é como eu previ, começou o desinteresse.

A turma da Isinha está toda em recuperação mas nada de grave. O Pingo ficou somente em Física.

Sempre achei que o professor dele é meio confuso e complica muito a matéria.

Isinha e Tergolina foram sábado à Caxias assinar uma escrituras de doação feitas pelo seu Paulo.

O que está em alta no momento é a decoração natalina de Gramado e Canela, coisa que acho extremamente cafona.

Como disse a mãe, ela não tem o menor interesse em ir ao Canela para ver lâmpadas apagarem e acenderem…

Tem razão a D. Célia.

Penso que não há nenhuma sinceridade naquelas decorações cuja única intenção é vender malhas para os trouxas. E, chocolates feitos em casa, uma droga.

Mas como a Heloísa adora as tais lâmpadas, temo que acabaremos pôr ir até lá em qualquer dia da semana e de semana.

Fim de semana, never.

En passant, hoje ouvi de uma ação promovida pôr um arquiteto que sentiu-se enganado pôr vendedores de time-sharing.

A cena já é bem conhecida: convite para ganhar uma semana em Cancum desde que o trouxa assista uma sessão de demonstração das excelências do time-sharing.

A pressão é tanta que o desinfeliz acaba marchando.

Me fez lembrar o episódio Lake Buena Vista em que uns judeus americanos vigaristas perpetraram o mesmo engodo acenando com um café da manhã gratuito.

Tive uma crise e neguei-me a adentrar o recinto: permaneci em jejum na chuva mas não embarquei na vigarice.

A Dra. Patrícia, como era coisa de americano et pour cause, séria, ( opinião dela ) marchou: comprou uma semana em Orlando onde decerto nunca irá na época que lhe foi destacada.

E, será que foi destacada?

Ë a mesma coisa que Gramado e Canela, só que mais cretina.

Bem.

Tem repercutido muito na cidade as declarações do Cachorrão Pont contra a vinda da General Motors.

O cara usa uma linguagem da década de 50 e 60, o que, no momento, soa mal.

O nosso petróleo é nosso, gringos go home, estes babados.

Pode ser que a moda volte mas está difícil.

Todo o mundo vai continuar a comprar carro pôr ainda muito tempo e, em sendo assim, é preferível que sejam feitos aqui.

Um cara do PT,  partido cuja origem foram os sindicatos metalúrgicos do ABC, não pode ser contra as montadoras.

Até pelo contrário: devia torcer para termos mais de uma porque haveria a possibilidade de sindicatos ricos apoiando o partido.

Este Pont sempre me pareceu – e tem cara de – burro.

Acho que o PT aqui é o Tarso e como estão dando um chega-prá-lá nele, vai começar o declínio.

Se houver plebiscito para decidir sobre reeleição, os do PT vão levar outra paulada.

Ganha a reeleição e ganham o FHC e o Brito, principalmente se os outros candidatos forem o Maluf, o Brizola e o Olivio Galo Missioneiro.

Acho que nem o Tarso ganharia do Brito, se continuarem as atuais circunstâncias.

Mas, ainda vai passar muita água debaixo do pont, com perdão para o trocadilho infamante.

Pretendo concluir cada registro diário com uma citação, anedota, hai-kai ou algo assim e pôr isto não encerro aqui: é que tenho um livro para trazer lá do escritório.

Irei transcrever muitos trechos de literatura árabe porque é matéria totalmente desconhecida entre nós e, o que é surpreendente, as poucas pessoas que a conhecem, a copiam com a maior cara de pau.

Encontrei vários temas que já foram publicados  como originais pôr beletristas nacionais e que são de autores árabes, alguns com quase 1000 anos!

” Senta-te, quando pequeno, onde deves; sentar-te-ás, quando grande, onde gostas “.

TERÇA FEIRA, 10 DE  DEZEMBRO DE 1996, tempo nublado.

A respeito do que escrevi ontem, há cerca de um ano ganhei um livro do Haushann intitulado “As Mais Belas Páginas da Literatura Árabe”, uma compilação do Mansour Challita.

Comecei a ler mas achei meio meloso e parei; retomei agora e casualmente o trecho em que abri o livro, era um velho conhecido assim que continuei para garimpar outras desonestidades.

Há inúmeras e pretendo transcreve-las ao longo deste registro.

Depois daquele famoso caso do “Homem Nu “ desconfio muito dos autores nacionais ou melhor, dos autores.

Penso, pôr exemplo, que o Veríssimo aproveita muito das viagens e das publicações que recebe da Europa.

O que já fazia o Millor, tenho certeza.

Claro que é só um aproveitamento de idéias, ficando pôr conta do intelectual o recheio.

Bem.

Hoje recebi um processo para defender a Seguradora; o autor é o Dr. Eduardo Antônio Parera Sá!

Assim que eles vão ter que arranjar outro advogado eis que o Código de Ética me impede de patrocinar processos em que irei litigar contra clientes recentes ou atuais.

Seria cômico principalmente porque o advogado ex adverso é o João Carlos Grey que trabalhava comigo e com o Paulo no escritório.

O Dr. Eduardo continua me criando caso.

Esta semana corre a Supersena acumulada 12 vezes; são mais de vinte milhões e vale a pena fazer uma fezinha.

Sempre jogo na Supersena mas até agora – é óbvio – nada.

Quem sabe desta vez.

Até que seria uma boa porque a família estaria tranqüila no que concerne à grana, pôr três gerações, no mínimo.

Aguardemos a quinta feira.

Da última vez, todo a família deu palpite, ao todo quase quarenta dezenas: acertamos uma, o 18, palpite da Heloísa.

Hoje mandei dar uma ajeitada no Gol da Heloísa que é um excelente carro e com pouca quilometragem.

Já o meu Santana está bem mas ,daqui a pouco, decerto já não mais terá valor comercial.

Pode ser que o troque no ano que vem.

Para isto é preciso faturar um pouco mais, no que pensarei a partir de março 97.

Até lá, como diria o Jorge Luiz, aproveitemos o verão que, esperemos melhor que o do ano passado.

Falando nisto, o Evaldo não quer mais vender a casa; prefere alugá-la pôr ano o que penso, será difícil.

Neste exato momento Heloísa está assistindo “Noviça Rebelde “pela enegésima vez, o Bolão deve estar estudando e comendo sorvete e eu embromando pôr aqui.

Dezembro calmo este. Pelo menos até agora.

O Word sempre sublinha “agora “para mostrar que a palavra está grafada errada mas não posso imaginar como será o certo.

Passei no Mercado Público e as reformas estão quase no fim; a gente estranha a nova disposição e forma das bancas mas creio que ficará melhor.

A parte de cima que estava abandonada, será destinada a restaurantes e estabelecimentos que tais o que, praticamente, dobra a área do Mercado; o acesso será feito pôr escadas rolantes que já estão no lugar.

Tenho minhas dúvidas se o sistema de escadas rolante irá dar um quilo!

O que vai dar de gambá tropeçando nos degraus não vai ser pouco.

Até agora o PT não tem sido feliz em suas iniciativas embelezadoras para a cidade: a cor com que pintaram pontes e viadutos é uma coisa horrorosa, fica entre a Mangueira e os Unidos da Restinga, amarelo merda com verde diarréia.

O Largo Glênio Peres é simplesmente um deserto de paralelepípedos, atormentado pelas intempéries, freqüentado pôr um monte de crioulos que mijam nas calçadas e pôr camelôs que vendem ervas e fazem o conhecido e edificante número do gato-no-saco.

Pior é quando armam-se palanques e produzem-se shows com artistas locais.

Acho que não há nenhum lugar do mundo em que os artistas locais sejam tão ruins como no velho RGS!

O cidadão incauto que assiste uma peça  encenada aqui, nunca mais passa na frente de um teatro.

O único que se salva e assim mesmo com um pouco de boa vontade, é o Borghetinho.

Porque também, sanfona de oito baixos é um pontapé nos bagos.

Esta é uma razão pela qual sou avesso a teatros, shows, recitais e quejandos.

Já me enganaram tanto que sinto-me afrontado quando um bando de jacus fica andando para lá e para cá na ribalta, crentes que são um híbrido de Eleonora Duse com Sir Laurence Olivier.

São uns caras de pau.

Capitaneados pelo careca da Tevah e pôr aqueles dois judeus que moram no São Pedro e que até hoje não entendi bem qual é a deles.

Deles e da Sopher que não só permite como patrocina aqueles dois.

Há também um cara de rabinho de cavalo que toca piano e diz-se compositor: o pátria é simplesmente ridículo e a música dele gera instintos assassinos.

Outra grande compositora e musicista é a Calcanhoto: a mulher não vai além do dó maior, fala mal e as suas letras nem merecem comentários.

Só não entendi até agora é porque a Jussara Cony não optou pela carreira de cantora: o circo estaria então completo e não precisaríamos mais dos Meninos Cantores de Viena .

Concluindo, parece-me razoável afirmar que o panorama artístico-cultural do Rio Grande, é uma merda!

Pensando melhor, acho que podemos estender este conceito ao Mercosul e justifico.

Como sabemos, a Ilha da Páscoa, o Umbigo do Mundo, faz parte do Chile embora a quase 4000 (2000?) kms distante do continente; baseados neste sólido argumento, os chilenos julgam-se um povo da Polinésia e, em conseqüência, afirmam que o folclore maori é nacional!

E montam uns shows de folclore polinésio-chileno que seriam o cúmulo do ridículo se não fosse a enorme quantidade de picaretagem que levam.

Ao que assistimos não deu para agüentar: tinha nativo maori ruivo com tênis Nike; as raini entravam e saiam mexendo a bunda para lá e para cá, sempre da mesma maneira em vinte e tantos números ditos diferentes. Só mudavam de roupagens que, aliás, eram de plástico.

Até o Vares, cuja apreciação crítica resume-se na palavra “Sen- sa- cio- nal “ declarou, meio a contragosto que realmente o show não era lá estas coisas.

Creio que os meus comentários, deduzidos durante o decorrer do show, não foram tão complacentes.

A apoteose acontecia quando enfiavam um colar de papel crepon vermelho – o máximo do mau gosto –  no pescoço dos turistas brasileiros abobados com tanta exoticidade.

Menos no meu quem, para ser gentil e educado, aleguei motivos religiosos para não ser empescoçado.

E, tome fotografia e salmão cru. A cinco e vinte dólares, respectivamente.

O fim da picada.

Para terminar, um monte de antepassadas do fundador de Camboriu, que viajavam paralelamente conosco, resolveram dar uma de brasileiras e formar um cordão carnavalesco.

Espetáculo deprimente!

Já em Buenos Aires, no Tango Mio, o negócio não era muito diferente: um apresentador com pinta de Gardelon cantando Caminito no meio de uma fumaceira braba porque os geradores de névoa estavam desregulados.

E duplas e mais duplas de dançarinos decadentes – as percantas beiravam os oitenta e os cafetins uns noventa – fazendo aqueles passos de tango mais manjados que as costeletas do Menem.

E, à semelhança dos nossos conterrâneos, eles também se julgavam uma cruza de Fred Astaire com Cid Charisse e induziam aplausos a cada vez que enfiavam o calcanhar na bunda do parceiro numa suposta e original voluta de tango.

De acordo com o Vares, “Sen-sa-cio-nal “!

Pelo menos a bóia era boa.

Assim que nós e los hermanos estamos no mesmo barco, uma baita duma canoa furada.

Sem contar aquele gordo chileno que cantava Mamae io Quêro.

Pior do que isto só trio elétrico. O que me faz lembrar as opiniões do Lins que ficam para uma outra vez.

Bem, encerremos com uma máxima árabe.

“Para os burros, a voz mais melodiosa é o ornejo dos burros”.

Tóóoinnn….

 

QUINTA FEIRA, 12 de dezembro de 1996, tempo melhorando.

 

Estamos em que hoje eu pretendia ir à praia mas não deu: sempre surgem n coisas pôr fazer que poderiam ser melhor planejadas mas não são.

Ontem o Grêmio perdeu para a Portuguesa pôr 2 x 0 e mereceu: no início deu a impressão que o Grêmio iria ganhar de 10 x 0 mas os caras começaram a fazer bobagem e se perderam completamente.

Na verdade o time é ruim, não tem nenhum craque de exceção e só joga na base do vigor e do conjunto.

Não merece ser campeão brasileiro; nem a Portuguesa.

Vamos ver domingo mas, pelo jeito, vai ser um repeteco.

O time é ruim porque o Koff pegou o Grêmio totalmente quebrado e não podia contratar ninguém de expressão: até o Luiz Felipe veio do Criciuma.

E, até hoje a coisa continua assim; o dilema é que tendo um grande time ganha-se dinheiro nas várias participações em campeonatos e não tendo a renda não existe.

Contratar ou não contratar, eis o dilema.

Faz lembrar a questão da importações: se liberadas, pensa-se que prejudica-se a industria nacional, o que não acredito. Se não liberadas as coisas ficam caras pôr aqui e todo o mundo vai comprar lá fora.

Resultado que gastamos mais em compras lá fora, via turismo, do que o valor de nosso déficit comercial.

Liberadas as importações, ninguém iria a Nova Iorque comprar bagulhos e, no final, o país ganharia mais,

Acho que um dia alguém ainda irá enxergar este óbvio ululante.

Em matéria de remédios – a industria nacional é protegida – vivemos uma vergonha: tudo quanto é fabricante de xaropinhos está ganhando fortunas com este protecionismo.

Ainda hoje, os países mais adiantados resolveram liberar os componentes de Informática para livre comércio ou seja, qualquer produto, soft ou hard, trafega entre aqueles países livres de alíquotas alfandegárias.

O que parece extremamente objetivo porque, em última análise, o que entra de graça é conhecimento, know how , tecnologia e isto todo o país quer.

Pois na pátria amada os mesmo produtos pagam 32% de alíquota de importação!

É como se o país cobrasse alíquota para que aqui entrassem as últimas descobertas em Física, Química etc.

Imensurável burrice!

Deve ser um cara do PT ou do Exército quem defende tal estultice; se não for loby .

Seria só lembrar os prejuízos que a Reserva da Informática nos trouxe e que foi patrocinada pelo Exército.

É bom lembrar também  que quem sepultou aquela burrice, foi o Collor.

Alias, o discurso do Collor (plagiado)era muito bom, o que não prestava era a entourage dele, E, ele.

É pôr isto que sou apreciador do Ciro Gomes, um personagem lúcido que conhece as malandragens do poder econômico nacional e senta o pau sem maiores considerações.

Se for candidato à presidência, o que duvido, tem o meu voto.

Falando nisto, o Tarso praticamente já abriu a sua intenção de candidatar-se à Presidência pelo PT.

Assim que teremos o Galo Missioneiro como candidato para governador o que será um enorme fiasco.

Há sempre o perigo do governo Brito tropeçar porque a turma que o secretaria tem uns ali babas

de respeito e isto pode acabar em escândalo; estão dando um enorme cartaz para o Assis quem é um perigo ambulante o que me faz pensar  que está sendo cevado pelo PT.

O bicho vai ficando mais confiante e quando vê está fisgado.

É a única maneira de vencer o Brito nas próximas eleições: descobrindo patifarias.

No plano federal, passando a emenda reeleição, o fim do governo do FH vai ser muito difícil porque a matilha dos eventuais opositores irá ladrar diuturnamente. O que já estava ensaiando.

Aí o governo deu duas demonstrações de força: o caso da Andrade Gutierrez e a lista dos devedores do BB.

Neguinhos vão pensar duas vezes antes de começar o ladrido.

Bem, chega de política.

Estou com tempo porque hoje não fui para o escritório, resolvi pendências pelo telefone.

Estive lendo um tratado muito interessante sobre o mito da Lua Negra, Lilith, a suposta primeira mulher que se rebelou contra as práticas sexuais do Adão e foi defenestrada do Paraiso.

Afirma-se que é com fundamento neste episódio bíblico que o homem de cultura mesopotâmica

instituiu o patriarcado.

Nos Livros mais antigos da Biblia ( a nossa é a versão do Rei James, centrifugada, pasteurizada e listerizada) a primeira mulher era Lilith e em determinado momento voltou-se contra o Adão querendo introduzir variações nos hábitos sexuais daquele cidadão ou seja, ela queria ficar pôr cima do referido.

Parece que Jeovah não esteve de acordo e chutou a postulante do Eden para uns banhados do Mar Vermelho onde ligando-se aos animais, gerou demônios e transformou-se no símbolo da lascívia e do mal.

Isso  é o super-resumo de uma tremenda bibliografia e ainda mais alentada pesquisa feita pôr gente séria mas, obviamente com ranço feminista.

Para esclarecer um pouco, Lilith não nasceu da costela do Adão mas sim junto com ele, produto original do Criador e portanto do mesmo nível hierárquico.

Já Eva é um derivado, o que faz supor inferioridade, um acessório que depende do principal.

Deste conjunto de postulados é que os homens tiraram o corolário do patriarcado.

O que não se sabe é se as histórias dos Livros foram escritas para obter um resultado desejado ou se o resultado veio como conseqüência deles.

Claro que a autora do trabalho que lí adota a tese apriorística.

Cabem algumas considerações.

Modernamente, o livro é um objeto comum, ao alcance de qualquer pessoa, em qualquer lugar da terra.

As técnicas para escrevê-los desenvolveram-se de tal modo que qualquer cretino pode produzir um livro e publicá-lo.

E, grosso modo, 70% da população da terra, sabe ler.

Assim que hoje em dia, é comum que leiamos um livro e a seguir o joguemos no lixo pôr ser uma reverenda porcaria.

Ou que as idéias veiculadas sejam simplesmente ignoradas, contraditadas ou execradas.

Voltemos porém no tempo.

Inicialmente lá pelo século XIV , antes de Gutemberg.

A percentagem dos terráqueos que sabiam ler era inexpressiva mesmo se expressa em números romanos.

A escrita era limitada a monges de ordens especiais afastadas totalmente da sociedade.

Estes personagens soturnos limitavam-se a copiar textos antigos pois eram incapazes de criar.

A maioria não sabia ler o que copiava.

Mistério total.

Em consequência, os livros  eram valiosíssimos, verdadeiros tesouros.

Tanto que, quando os árabes tomaram Constantinopla no século XV, as pessoas muitas vezes preferiam fugir com livros do que com ouro e pedrarias.

Valiam mais!

O conhecimento era transmitido pôr meio oral e, como ainda hoje acontece, atribuía-se aos antigos, conhecimentos capazes de trazer saúde e felicidade latu sensu.

E, o conhecimento dos antigos estava nos livros.

Os livros teriam então poderes mágicos, ensinariam verdades eternas, eram incontestáveis e aqueles que tinham acesso a eles eram considerados semi-deuses.

Isto já no século XV.

Imaginemos a força que não teriam antes, no século I ou II, pôr exemplo.

Ë de admitir-se que a matéria contida em livros seria indiscutível, a própria verdade em si, o verbo dos deuses.

Assim que alguns mais espertos – sempre os há em qualquer tempo – certamente tratariam de escrever livros para vender seu peixe.

Midia de marketing antes de Gutemberg, do rádio e da televisão.

Se alguém pensou nos Evangelhos, não deixa de ter razão.

Aliás, ainda hoje há alguns malandros que ganham dinheiro com o mistério que era atribuído aos incunábulos(?) : Umberto Ecco.

De modo que é plausível a tese de que os livros iniciais da Biblia foram escritos com o intuito de afirmar a predominância do homem sobre a mulher.

O assunto torna-se mais emocionante com a evolução do mito de Lilith até aquele das feiticeiras.

As descrições dos sabat, extraídas de processos instalados contra feiticeiras na Idade Média,

são alguma coisa que extrapola a nossa imaginação moderna.

Não somos mais capazes de imaginar tanta luxuria, maldade e imundície.

E, o que é pior, a conclusão que se chega, é que tudo aquilo era fruto de fantasias e desejos sexuais reprimidos, tanto das supostas feiticeiras como dos juizes.

Às vezes a gente não entende porque o Freud tem tanto cartaz mas, na verdade foi ele o primeiro  homem quem  mostrou a que extremos pode chegar o instinto sexual quando reprimido.

Quando éramos gurizotes, ficávamos espantados ( via cinema ) com  o que chamávamos de liberdade sexual dos europeus e americanos  contrastando com o evidente fato que a sociedade deles era mais sadia do que a nossa.

A explicação está ali em riba.

A Igreja católica romana ainda tem muita culpa no cartório  que não prescreveu.

Enquanto isto, a Heloisa, a Helena e o Alemão jogam buraco sem  preocupar-se com estas coisas. O que é muito bom.

Deixa eu dar uma verificada se a palavra “Incunábulo “significa mesmo o que eu penso; acontece que lá pôr 1963 eu ajudava a Heloisa em seus trabalhos de História do Livro e já lá se vão mais de trinta anos.

A minha memória tinha razão: “incunábulos “ NÃO eram os livros manuscritos nos conventos mas os primeiros livros impressos na máquina de Gutemberg.

Entre uma palavra sugestiva e a verdade, melhor a verdade!

Agora, que incunábulo cabe bem num tema meio hermético, lá isto cabe.

Bem.

Ao que tudo indica, os registros 97 serão muito eruditos…

Negócio que eu empaco neste Word é a palavra “agora “que ele sempre sublinha como se grafada errada: já tentei de tudo e acho que a solução é substituí-la pôr “allors “ quando for adversativa.

Bem.

A gurisada, com exceção do Angelo e do Lucas, já está de férias.

O Pino, segundo suas próprias alegações, já passou na recuperação de Fisica.

Agora vai começar a novela do vestibular.

Quero ver se ele se agüenta aqui em POA, no mês de janeiro com a curriola toda na praia.

Ele vai acabar passando em Engenharia Mecânica o que não é ruim.

Mas irá fazer também vestibular para Nutrição e aí já estamos partindo para a galhofa.

O Pingo nutricionista é uma abstração que poucos cérebros da família poderão elaborar.

Como trampolim para não ficar um ano coçando o saco ate’ que vale.

O Angelo, para não sair do IPA que ele adora, pôr enquanto está pensando em cursar Fisioterapia ou Educação Física.

Seria um bom oficial do Exército: é saudável, organizado, gosta de esporte, extremamente adaptável, é lider nato e não é ambicioso.

Em tendo pai rico para financiar cursos no Rio, principalmente Educação Física na Urca, completa-se um quadro perfeito.

Quem quer ir para a AMAN é o Lucas, o que também é uma boa opção para ele

Em conseqüência, acho que o Lucas deveria ir para o Colégio Militar quando terminasse o ginásio.

O povo faz muito mistério das dificuldades em ingressar no Col. Mil. mas não é bem assim: é só ingressar no curso do Pedrinho que passa. O Lucas é muito bom em Matemática. .

Outro que daria um bom milico é o Pablo mas como o Carlos pretende que ele vá para a Washington University, já a opção torna-se mais difícil.

Realmente a Washington é uma tentação e se a pessoa conhece aquilo lá, nem a AMAN consegue impressioná-la mais.( Tenho um filme da Whasiú)

Porque a AMAN também é um senhor campus.

Daqui a uns dez anos voltaremos ao assunto.

O Pablo tem tripla nacionalidade e vai ter que optar quando atingir os dezoito anos pôr causa do serviço militar aqui, nos USA ou no Uruguai.

Negócio complicado!

Talvez ele opte pela naturalidade que é americana.

Particularmente penso que o melhor é ser brasileiro, nas circunstâncias dele, é claro.

Ou, quem sabe, se a corporação Barrios progredir em termos do que estão fazendo, optar pela nacionalidade uruguaia?

Se a corporação conseguir expandir-se pôr uns trinta mil hectares de terra de plantío e criação, vai dar para todos os sobrinhos terem um bom quinhão.

E o Pablo é um campeiro nato, decerto puxou ao Dante.

Exercícios de futurologia.

Voltemos aos árabes.

Quem não conhece o “Tout va trés bien Madame La Marquise “?

Pois aí vai o original.

 O HÓSPEDE.

 Por Al-Ibchihi.

 

Contam que um beduino vivia longe de sua terra. Um dia recebeu a visita de um outro beduino de seu próprio bairro.

O visitante estava com fome, e enquanto comia, respondia às perguntas interessadas de seu hospedeiro.

– Como vai meu filho Omair?

– Como tu queres. Encheu o bairro de filhos.

– E como vai a mãe dele?

– Perfeitamente bem.

– E nossa casa?

– Sólida e prestigiosa, como sempre.

– E o nosso cachorro Ikah?

– Impõe-se ao bairro todo com seus latidos.

– E o meu camelo Zuraik?

– Ficarias feliz de revê-lo.

(Dizem):  O hospedeiro mandou o servente tirar a mesa antes que o beduino estivesse satisfeito, e voltou a perguntar-lhe sobre sua terra e sua gente.

– Pergunta-me o que quiseres, disse o hóspede.

– Fala-me do meu cachorro Ikah.

– Morreu.

– E de que morreu?

– Engasgou-se com um osso do teu camelo Zuraik.

– Morreu então o meu camelo Zuraik.

– Morreu.

– E de que morreu?

– De tanto transportar água ao túmulo de Om Omair.

– Morreu então minha mulher?

– Morreu.

– E de que morreu?

– De tanto chorar sobre Omair.

– Morreu então meu filho?

– Morreu.

– E de que morreu?

– A casa caiu em cima dele.

– Caiu então a nossa casa?

– Caiu!

O hospedeiro sacou de um bordão para bater nele; mas o beduino fugiu.

 

Como vemos, nihil novum sub solem.

Boas notes.

 

SEXTA FEIRA, 13 DE DEZEMBRO DE 1996, 21.10h, tempo chuvoso.

 

Como se lê, estamos em uma sexta feira treze, coincidência cronológica que muitas pessoas não gostam; as razões são fundadas em antigas superstições de que não me lembro mas irei pesquisar e  informar na oportunamente.

Indo atrás do tal de “agora ‘, que sempre aparece como errado, descubro que o dicionário que apoia este Word, é lusitano!

O que consta é “agoira “!

Pôr isto que a acentuação difere de tudo o que sei. Mas, ao que sei também é que os dois países mantinham regras ortográficas iguais o que não parece ser verdade.

Hoje estivemos no Fedoca para uma revisão e receita de óculos.

Mantive a minha graduação e, de acordo com o Flávio, estou muito bem ; Heloisa acentuou a miopia e está começando um processo de catarata o que , modernamente não é mais problema.

Liege chegou de Pelotas com as crianças para ir à festa/96 da parceria.

No mais, tudo tranqüilo; Pingo passou aqui de tarde e, parece-me, está desligado da frau.

Se for assim, o namoro somente serviu para conturbar o vestibular dele.

Será que o dicionário deste Word  já está de acordo com as últimas regras de escrita e pôr isto quase não acentua as palavras?

Se é assim, pôr que  “ pôr “ leva acento?

Negócio meio complicado.

Vou ter que reler o manual.

De qualquer forma, enfatizo que eventuais erros de acentuação, devem-se ao dicionário do Word e não a mim.

E pôr quê permanece o trema, uma velharia que nem se usava mais?

Mistérios…

Boas notes.

 

SABADO, 14 DE DEZEMBRO DE 1996, 2130, tempo bom.

 

A novidade é que o Bolão, hoje, trocou a Parati pôr uma Marajó 88 que está muito bem cuidada.

Usa gasolina o que já é um descanso.

Na verdade a Marajó é um Chevete com mais espaço e, portanto um carro muito econômico e de mecânica simples.

Também, retornou o Dr. Barrios de suas andanças pelo Cone Sul e São Paulo.

Assim que amanhã teremos churrasco com a presença da maioria eis que o Tergolina continua na faina de dar partida à fábrica e não tem comparecido.

Parece que a fábrica parte dia 25, em pleno feriado de Natal.

Infelizmente, estas coisas tem um cronograma tão rígido que não  pode sequer considerar feriados.

Amanhã é a final do campeonato brasileiro e o Grêmio tem que ganhar de 2 x 0 da Portuguesa; um torcedor da Portuguesa arranjou um argumento interessante:

– O Grêmio já tem tantos títulos que bem podia deixar este para nós!

Até que vale mas não me parece que o Grêmio esteja de acordo.

O Angelo e o Lucas irão ao jogo.

Na minha opinião dá 3 x 0 para o Grêmio.

Quis jogar R$300,00 mas ninguém topou.

Fomos à feira de manhã e depois na mãe.

Tudo bem mas penso que a Saara e a mãe exageram um pouco com o suposto Alzheimer do Paulo.

Particularmente eu não percebo nada de diferente no comportamento dele.

Claro que quem vive o quotidiano pode avaliar muito melhor mas me aprece que há uma certa prevenção com o Quatrolho.

Recomendei à Saara que tente alecrim com o Paulo. Creio que já disse que a tradição ante-medieval atribuía ao alecrim efeitos notáveis sobre a memória tanto que, no auge do método mneumônico, os especialistas usavam-no com muito bons resultados.

Como naqueles tempos a média de vida era curta e quase não incidiam doenças degenerativas, é razoavel admitir-se que o alecrim atue nas artérias – ou no sangue – e produza efeitos benéficos desconhecidos.

Amanhã falarei com o Carlos para saber se ele tem algum paciente com arterioesclerose que admita um teste.

Afinal tudo é válido porque ainda não se descobriu nada para tratar a esclerose degenerativa.

Bem.

Interessante observar que, pôr razões que talvez remontem às vivências do Rio de Janeiro, sempre achei extremamente vulgar as pessoas irem às feiras.

Também não sei porque fomos pela primeira vez aqui em Porto Alegre mas depois que se vai, adquire-se o hábito que é, alias, muito saudável.

Os produtos são ótimos, baratos, pode-se avaliar de como as pessoas estão vivendo e fica-se com um panorama geral do que está acontecendo com os meios de produção.

Inegavelmente, há certas coisas que são verdades axiomáticas: as frutas do Rio Grande do Sul são as melhores, os produtos importados têm melhor apresentação e são muito baratos, o preço dos legumes é sazonal, os cítricos já não aparecem na mesma abundância como há uns dois anos atrás.

Sempre havia uma profusão de laranjas e vergamotas que entulhavam a feira e os olhos da gente e penso que a sua diminuição deve-se às inúmeras fábricas de sucos que estão se instalando pôr aqui.

Ao mesmo tempo, tenho notícias que nas pequenas propriedades onde antes plantavam-se cereais etc, hoje predominam os pomares.

Como esta mudança é recente, é possível que em mais dois anos, os cítricos voltem à feira.

Junto com ameixas, peras, maracujás, abacaxis etc.

É o caso desta melancia gordinha, dita Paulista, que hoje domina o mercado: até há uns cinco anos atrás, elas simplesmente não existiam pôr aqui ; plantava-se a Gigante do Mississipi.

Como a gordinha produz mais, é mais doce e tem um tamanho  compatível, todo o mundo aderiu

Acho que a Emater influi muito nestas práticas.

Uma das vantagens é que, uma gordinha, pode ser liquidada pôr duas ou, no máximo três pessoas enquanto que para comer uma Gigante do Mississipi, era preciso antes reunir a vizinhança e armar um barraco de festa junina.

Exceção para o Dr. Nilson que come uma inteira sozinho.

Uma vez ele me afirmou isto e declarou que gostava tanto de melancia que o tamanho não o assustava.

Indo para o Imbé, passei num bolicho de estrada em que havia uma enorme, tão grande que quase não consegui carregar, eram uns quarenta quilos.

Levei para o Dr, Nilson que não se acovardou e disse que  liquidaria o monstro no momento apropriado.

Num meio de tarde, olhei para lá – ainda não estava montado o Sing Sing – e lá estava o Dr. Nilson com  a baleia em cima de uma tábua, perto do tanque de lavar roupa, mandando brasa.

Apud illi, não conseguiu e passou o resto do veraneio arrotando e mijando.

Isto aí. Boas noites.

 

DOMINGO.15 DE DEZEMBRO DE 1996, 2300h, tempo bom.

 

Dia movimentado hoje; veio todo o mundo para o churrasco, o Grêmio ganhou o campeonato brasileiro, esquentou, a casa está meio bagunçada, em suma, um dia agitado.

Neste exato momento está todo o mundo na rua, de carro, buzinando, um auê pela vitória do Grêmio de 2 x 0  na Portuguesa.

É um negócio meio suburbano este de ir para a rua de carro e ficar buzinando e rodando para lá e para cá mas enfim, assim somos nós.

Estou escrevendo aqui para relaxar: sou homem de meios tons, não suporto muito barulho, muita luz, muita bagunça. Sempre fui assim.

De vez em quando tenho que me retirar do ambiente e ficar quieto num canto meio escuro para não começar a morder.

A espécie animal de que descendo não deve ser das mais sociáveis; certamente não é de macacos.

Há pessoas que têm medo de multidão, o que não é o meu caso: tenho raiva.

Bem.

O Carlos levou os guris ao Olímpico e deu sorte; imagino que o Diego e o Pablo devem estar eufóricos com muita coisa para contar.

O Angelo não conseguiu entrada o que foi uma pena porque assistiu a quase todos os jogos e acabou perdendo o mais importante e também o mais gratificante.

Deve estar festejando lá pôr Ipanema.

Os guris passaram o dia brincando aqui no computador e, para variar mudaram o protetor de tela.

É um saco.

Vou parar pôr aqui para acertar as configurações.

Boas noites.

 

SEGUNDA FEIRA, 16 DE DEZEMBRO DE 1996, TREMENDO TORÓ.

 

Ao cair da tarde, lá pelas 1930 desabou um toró daqueles de derramar baldes de água; por infelicidade, a calha do lado do Uebel estava entupida com uma tampa de Nescafé e repetiu-se a inundação já registrada aqui no dia da visita do Pascal há uns dois anos. Depois vou até conferir a data.

O Bolão subiu lá e desentupiu a calha, evitando uma bagunça ainda maior.

O quarto da frente ficou ensopado e não sei como o Bolão, Liege e crianças vão dormir.

Acho que, alem da calha entupida, também a ventania deslocou alguma telha porque em nosso banheiro também apareceu goteira.

Vou chamar o Ary para dar uma conferida.

Não há o que agüente um toró como o que despencou; já sei como será este verão, calor insuportável e eventuais torós de inundar tudo.

Esperemos que não aconteça isto na praia.

Hoje estiveram Renato e Eduardo – um de cada vez – para repartir o que ainda não foi para o brejo..

Amanhã continuam as negociações se bem que não há muito o que negociar.

Até amanhã ou depois.

 

QUARTA FEIRA, 18 de dezembro de 1996, 1930h. tempo bom.

 

Acabamos de chegar do Carrefour onde fomos comprar material para a festa de Natal e alguns presentes.

De manhã fui para o escritório para fazer uma petiçao da irmã do João e também levar os dois 386 desmontados que estavam aqui em casa.

Dos dois o João irá fazer um para o Chico; pelo menos é o que se pretende.

O Pingo está querendo de Natal as peças necessárias para envenenar o computador dele; acontece que não dá , a placa-mãe daquele computador é muito fraca.

O que ele quer é colocar um processador pentium mas não é possível.

O João já estudou o problema.

Nunca esquecendo que, no ano que vem, tudo isto, inclusive os pentium já serão coisa de passado remoto.

Não dá para acompanhar a onda da Informática: o negócio é ficar com o que se tem desde que sirva para o que se necessita.

Como já disse o Dave Barry, com muito mais propriedade e graça.

Bem.

Renato queria, insistentemente, fazer um churrasquinho aqui mas convenci-o que nesta época, não há tempo nem disposição para programas extras.

Voltou para Bagé com a vontade.

Já está pronto o documento de separação da dupla; o Eduardo está colocando alguns ítens que pensa serem mais necessários e creio que será assinado sem problemas.

O Eduardo vai para Angra e de lá para a Fazenda: convidou-me  mas não sei se vai dar.

É lá pôr quinze  de janeiro.

Sexta feira pretendemos ir até a praia para uma primeira arrumada nas coisas embora me pareça que está tudo bem: o que havia para ser feito, já fiz.

Mas sempre há alguns detalhes.

A ida definitiva ainda não está marcada mas creio que será no dia 27 ou 29: a Virginia sempre festeja o aniversário que é dia 29.

Boas noites.

 

DOMINGO, 22 DE DEZEMBRO DE 1996, 2215h. ,tempo nhem nhem nhem.

 

Estamos voltando da praia onde estávamos desde sexta feira.

Virginia e as crianças mais o Pablo e o Diego também foram.

Tergolina passou pôr lá no sábado para ver a obra da casa nova.

Aproveitamos para dar uma chegada na obra e realmente está situada em ótimo local e a casa é de luxo.

Vimos também o terreno dos Fietz que é muito bem localizado em relação ao mar.

A sensação do Imbé são duas latrinas que foram construídas em pleno calçadão, na saída da Santa Rosa

Realmente é um negócio meio rebarbativo mas penso que para acabar com o vexame, somente apelando para o ridículo.

É muito difícil argumentar contra uma instalação sanitária, mesmo que erigida em um calçadão de praia.

Na verdade o calçadão do Imbé não é algo tão nobre que repudie uma latrina; pensando bem o substantivo que os define é o mesmo.

Outro aspecto que vale registrar foi a infestação de algas na piscina!

Negócio muito sério porque é uma alga desgraçada que entope tudo quanto é duto e se chega a endurecer vira um concreto brabo.

Tive que apelar para tudo e assim mesmo a água ainda não ficou completamente livre das tais algas.

Semana que vem acabo com elas.

No mais tudo como de costume: chuva, calor, as crianças se divertindo muito, conhecidos aparecendo para tomar chimarrão, estes babados.

Passaram o Indiana e a Angela que estão muito maltratados: ele, magro e de barba branca, está um ancião e ela, também magérrima e meio acadelada dá a impressão que chegou no limite de suas possibilidades como guia hipológica.

Mas, ao que tudo indica, o negócio vai de vento em popa ou, talvez melhor, de cavalo em popa.

Bolão está de serviço e deixou pronta uma comida húngara que resolvemos será apreciada amanhã.

 

Não sabemos se Liege já veio mas parece que não.

Até amanhã.

 

SEGUNDA FEIRA, 2312996, 2335h. tempo ainda nhem nhem nhem.

 

Estamos em plenos preparativos para amanhã; parece-me que este ano as coisas estão mais devagar e teremos correrias de última hora.

A frigider nova chegou e a vantagem é ser frost free; a antiga está sendo usada na área dos fundos aguardando transporte para a praia.

Recebemos carta da Lucia e concluo que o Word dela é o 6 pôr causa da acentuação.

Está empolgadíssima e vai ser uma micreira, com toda a certeza.

A tal comida húngara do Bolão, goulash, estava muito boa.

De manhã fui ao Forum e ao escritório; de tarde cortei a grama, instalei a frigider e tentei sulfatar as uvas porque os sabiás já começaram a bater.

Ë um saco este negócio de passarinhos na parreira e explica porque os gringos acabam com eles.

Aqui em casa os sabiás comem todas as pitangas, as goiabas e estragam os cachos de uvas.

É uma pena porque as uvas estão lindas.

Não consegui sulfatar porque pifou a maquineta, uma boa droga.

O Beto bolou um espargidor com um bujão de gás daqueles antigos, compridos: colocou um ventil de pneu e, com um compressor, toca 50 libras/pol.quadrada de pressão lá para dentro. Aí é só abrir a válvula e o que estiver dentro do bujão sai a mil.

Funciona que é uma beleza.

Hoje chegou a Maria Helena que foi recebida no aeroporto pelo Bolão: os Barrios não podiam ir pôr causa dos compromissos.

Em seguida vêm a Helena Maria e o Bruce e vão todos passar o ano lá na fazenda de Artigas o que, parece-me é programa de índio cruzado com sem-terra.

Lembro que, quando do seu casamento, o Bruce declarou que Montevideu era habitat para indios; o que ele irá dizer da fazenda em Artigas não sei mas posso imaginar.

Periga o cara enfartar!

Nunca esquecendo que, para ir até lá e voltar para S. Catarina são 2000 Km.

Isto porque a família toda irá passar duas semanas no Santinho, o que não é má idéia.

Salvo erro, engano ou omissão, o grupo é composto de nove crianças de 2 a 8 anos e nove adultos efetivos, sem contar a famulagem.

O que nos coloca a beira do velho dilema: é passeio ou expedição?

O tempo dirá.

Falando nisto a Isinha, no fim de semana, foi à Santa Catarina, praia de Mariscal o que presumo deve ser alguma coisa ligada ao Stroessner quem veraneava pôr lá.

Diz a Isinha que o lugar é uma lou-cu-ra!

Só que é longe prá burro.

Depois de Florianópolis.

No momento estou falando com a Lucia, sabendo as notícias do Rio.

Voltando atrás, a questão de ir ou não para Santa Catarina somente estará resolvida quando duplicarem a BR.

Até lá, sempre há argumento forte em favor do Imbé: a distância.

No dia em que a estrada estiver duplicada, vai ser preciso muito patriotismo para preferir os mares marrons e as latrinas no calçadão.

É um caso a pensar.

Bem, amanhã é a festa de Natal e presumo que irei trotear muito assim que parece prudente ir dormir mais cedo.

Boas noites.

Não sem antes citar os árabes.

“  Um punhado de sorte vale mais que seis cargueiros de ciência.

 

TERÇA FEIRA, 24 DE DEZEMBRO DE 1996,1635h. tempo bom.

 

Se alguém espera que eu faça considerações melosas sobre o Natal, you wrong paleface.

Penso que neste momento estamos terminando os preparativos para a ceia e disitribuição de presentes; até que mais cedo do que eu esperava.

A Alba funcionou muito bem e parece que gosta de fazer jantares mais sofistificados.

No ar a musica da Maria Bethania via um CD que o Bolão me trouxe de presente e que está propondo trocar pôr um bossa nova.

Vou analisar para ver se o escambo me é favorável.

Acho que não é, vamos manter o statu quo.

Telefonei para convidar o Rolla para vir cear conosco; posso estar enganado mas acho que ele chorou.

Ou terei me enganado?

Tudo é muito cheio de surpresas.

Hoje o Jabour publicou uma crônica notável na Zero Hora: o turco é cáustico sem ser agressivo, muito bom.

Pedi ao Alemão Henrique para varrer a frente porque eu já tomei banho.

O Alemão está enrolado mas com extrema boa vontade, que é o que conta.

Helena esteve até agora ajudando a Heloisa e acaba de ir para casa com o Paulo que veio trazer os presentes a serem distribuídos.

Só falta levar a Alba em casa.

Até ao ano passado ( ou atrasado? ) este cerimonial era feito com a Elaine.

Acho que se arrependimento matasse, a Elaine já estaria cozinhando para os bem aventurados.

O que ela levava no Natal para casa era uma festa, comidas, bebidas, presentes.

E sempre um baita peru; agora deve estar na base do frango do FHC.

Falando nisto, acho que, no momento, o FHC é a pessoa que mais leva pau neste país: de um lado a direita malufista pôr causa da reeleição e do outro a esquerda burra pôr causa do inegável sucesso do Real.

Ambos, Maluf e esquerda burra estão pela bola sete e sabem disto.

Se O FHC se reelege – e é certo – O Maluf vai estar meio velho para a próxima; os PT etc. vão ficar falando sozinhos no meio da charneca.

É um pobremão para a Jussara Cony e para o Brizolla  cujos aliás não merecem comentários como diria o assessor cultural do Raul Pont,. Com a aprovação do chefe.

Recebi um folheto do Pedro Americo Leal, o Villa Isabel ou, mais modernamente, Velho Borzega, emérito edil desta cidade.

O Villa, carioca malandro, zona norte, chefe de torcida, conseguiu a difícil façanha de ficar em segunda época em todos os anos dos cursos da AMAN e da EPPA.

E, na Infantiria de linha que reunia os maiores luminares da Academia.

Depois fez um cursinho, que todos fizemos, no CCP do Leme e auto-nominou-se Psicólogo, naquele então uma atividade ainda não oficializada.

Aí publicou a sua obra prima, O Velho Borzega, poesia épicosaudosista , entrou na política como representante da direita burra e conquistou seu espaço, enganando e enganando.

Faz parte, como figura folclórica, do programa do Flávio Alacaraz Gomes, Os Guerrilheiros da Notícia, do canal 2.

Explica-se porque o Villa, quando diretor da GB Propaganda, soltava uma grana firme para o Flávio que nunca pregou prego sem a respectiva estopa.

Uma vez viajamos para o Rio, lado a lado, o Villa e eu; começava a abertura e ele queixava-se amargamente dos terríveis comunas quems, pelo que faziam, mereciam paredão.

E acrescentou com ar misteriosos e grave que, às vezes, eles eram obrigados a fazer coisa terríveis com os referidos.

Quase rí da cena porque o Villa era conhecido pela sua extrema crueldade e malvadez no campo verbal: na prática era um medrosão de marca maior e incapaz de qualquer maldade.

Estava querendo me impressionar não sei porque.

E também não sei porque estou perdendo tempo e latim, máu latim, com o Pedro Américo.

Este ano o peru é um tremendo mixuruco, daqueles de quatro quilos; acontece que ninguém come peru a não ser este que vos fala.

Fico até o ano novo comendo o peru do Natal.

Este ano , devemos considerar o Bolão, decerto termina na janta de amanhã.

Nunca esqueço que o Dinar Gigante, quando presidente do BB, mandou para a Baixinha, naquele então casada com o Banda, um peru de 24 quilos!

No ano seguinte eu consegui um de 14 quilos o qual, comparado com o do Dinar, era um galeto.

Ano que vem compro um de trinta quilos, podem crer.

Se bem que já há uma campanha contra o costume de assarem-se perus no Natal; é o que eu sempre digo, começa no cigarro e acaba no peru!

Pôr aí.

Hora de encerrar porque não demora começa o auê.

Até amanhã ou depois.

 

QUARTA FEIRA, 25 DE DEZEMBRO DE 1996, 2040h. tempo bom, quente.

 

Acabamos de regressar da Patrícia onde passamos a tarde na piscina; estava ótimo, com direito a sorvetes, bolos, refrigerantes etc. Estava a família Fietz e, quando saíamos para irmos na mãe, chegaram o Bolão e a Liege com os guris.

Lá na mãe estavam o Beto e a Bia, o Paulo e a Virginia; tudo bem.

Ontem a festa foi muito animada, com a presença de todos, exceto a Marilia que não veio porque a Andrea está deprê com a história da acusação de homicídio culposo.

Não creio que ela vá sofrer qualquer condenação mas tudo é possível.

Se ela tivesse me procurado na fase do inquérito policial, garanto não teria sido indiciada mas a Andrea é muito complicada.

Estava muito quente e o Papai Noel sofreu com o calor; acho que está na hora de comprar uma roupa de algodão.

Assuntos que merecem registro:

– O Papai Noel reclamou da bagunça quando da sua entrada: estava todo o mundo às voltas não sei com que e nem deram bola. Foi preciso uma ação enérgica do Papai Noel para o povo se organizar.

– Funcionaram como ajudantes do Papai Noel o Henrique e o Pablo e foram muito bem.

– A Minie reapareceu e muito bonita. O Angelo estava empolgadíssimo

– O Papai Noel reclamou que todo o mundo ganhou montes de presentes, exceto ele, o Tergolina e o Carlos.

Reclamação não procedente porque os presentes dos aparentemente excluídos, estavam guardados.

– Uma determinada personagem mostrou-se particularmente venatória em relação sexo oposto!

– O Tergolina exagerou nos presentes: nada como ser dono da Ipiranga-Hoescht.

– Heloisa exagerou nos presentes: nada como ser esposa de aposentado do INPS.

– A comida estava ótima com destaque para um salpicão.

– O fato de haver duas frigiders em serviço facilitou as coisas.

– A bagunça de pós-festa foi bastante menor.

– O Leo e a Enilda, surpreendentemente, não apareceram.

– O clima estava agradabilíssimo.

Em resumo, foi isto aí.

Neste momento Bolão está falando com o Rafael Alba de Santo Domingo; boa gente, o Rafael está de aniversário, 53 anos.

O Bolão fala um espanhol horrível.

Pior só o inglês da Patrícia.

Pôr falar nisto, hoje assisti um pedaço de um filme inglês baseado em Dickens, caso em que não preciso de tradução.

Se eu voltar aos USA, vou falar inglês da Inglaterra com aqueles engole-ovo.

Como dizia, mais ou menos, o Oscar Wilde: “Inglaterra e Estados Unidos são dois países com tudo em comum, mas separados pela lingua”.

Chico e Zé ganharam duas metralhadoras há cerca de meia hora: já estão estragadas!

Made in Paraguay.

Boas notes.

 

QUINTA FEIRA, 02 janeiro de 1997 1615h., tempo enfarruscado.

 

Encerrei dia 25 dez., hoje é 02 jan. uma semana portanto.

No intervalo, fomos para a praia dia 27 ou 28 e retornamos ontem para a formatura do Pingo que é hoje.

Pôr sinal que ele ainda não chegou do Imbé de onde viria hoje de manhã com a Rachel.

Passamos o 31 no Imbé, como de costume ,com os Fietz e os Tergolinas e os Pereira (Antônio Pedro, Denise e Carol); o tempo estava excelente e o mar também, Santa Catarina.

Os Fietz ficaram pôr lá, devendo seguir hoje para Torres.

Acaba de chegar o Bolão; a Liege já estava aí e se este computador fosse acústico, poderia ser ouvido o barulho dos gurís.

Falei com o Dr. Barrios : acaba de viver uma experiência inesquecível que, apud illi, todos devemos passar na vida para que possamos atingir a maturidade plena: expedição a uma fazenda sem nenhum conforto, distante 1000km., acompanhados pôr inúmeras crianças, debaixo de calor dito senegalesco, em ônibus preferencialmente parador.

Fazendo parte da crew, diversas senhoras extremamente tolerantes e um súdito americano quem, de tempos em tempos exclama sugestivamente: – Oh My God!

O Carlos, com sua costumeira economia de palavras quando narra fatos menos  edificantes, não foi além disto mas agora espero que a Patrícia apareça pôr aqui para dar a versão analítica da expedição.

Decerto terei assunto para mais de duas páginas de comentários.

Coloquei minhas pendências em dia e amanhã pago algumas contas estou pronto para retornar o que somente acontecerá sábado pôr causa do aniversário do Lucas.

Aqui em casa tudo bem.

É só pôr agora: espero voltar mais tarde, depois da formatura onde, segundo a Isinha vai dar o maior bode.

Suspense!

 

SEXTA FEIRA, 03 jan.997, 1900h., tempo bom, calor.

 

A formatura do Pingo terminou muito tarde e depois ainda o referido veio aqui para casa a procura de uma fantasia para o baile comemorativo, assim que não pude retornar a este texto, como pretendia.

Contrariamente ao que previa Isinha, a cerimônia foi tranqüila, com discursos até bem interessantes e num ambiente senão conservador, pelo menos educado.

Pena que alongou-se demais com entrega de n prêmios e acabou um tanto cansativo.

A turma de formandos deu a impressão de ser composta pôr meninos bastante comportados, educados e, certamente, muito ligados ao colégio; a maioria, aliás, está no IPA desde o primário o que já é um indicio de boa formação inclusive religiosa.

A descrição catastrófica que a Isinha fazia deles, não se confirmou em absoluto.

Penso que o Pingo sentiu o cutuco e se emocionou com a cerimônia.

Amanhã começa o vestibular na PUC e veremos o que acontece: uma coisa é certa, o Pingo não está sob nenhuma forma de pressão e vai para a prova com  tranqüilidade, o que não deixa de ser muito bom.

Sábado começa na URGS.

Mantenho a minha opinião de que ele passa nas duas: as pessoas pensam que quem faz as questões do vestibular é um bando de sacanas especialistas em pega-ratão. Ledo engano: são técnicos altamente especializados que montam as provas visando selecionar aqueles que têm nível para cursar a universidade, o que, inegavelmente, o Pingo tem.

Veremos.

Estamos aguardando o Dr. Barrios que vem buscar colchões para alojar os dezesseis hóspedes que recebe hoje e que amanhã partem para o Costão do Santinho.

Ainda não tive oportunidade de falar com a Patrícia sobre a expedição mas ouvi rumores de que foi pior do que o esperado porque o hotel de Artigas estava em reformas.

Aliás, sobre este hotel, onde já paramos, cabe uma observação.

Da janela do quarto onde estávamos, via-se a torre da Igreja Matriz que fica a uns trezentos metros.

Referido templo, seguindo tradição espanhola e fradesca que data da Idade Média, anuncia o correr das horas pelas batidas de um sino que imagino poderoso.

Nas horas cheias, tantas badaladas quantas couberem, nas meias horas uma solitária, soturna e tremenda badalada.

Não há cristão que consiga dormir com aquela espera tantalizante: você ouve a porrada da meia hora e fica aguardando as próximas.

Sonha-se em dispor de uma bazuca para acabar com o badalo, o sineiro, o padre e os costumes medievais.

Bom  era o restaurante do hotel mas, com as reformas, estava fechado.

O pessoal chiou que isto não é época de reformar hotéis mas não devemos esquecer que aquele lá é público, pertence ao município, assim que os interesses são outros, certamente prevalecendo aqueles dos funcionários que querem entrar em férias no verão.

Bem, aguardemos mais detalhes da Patrícia.

Hoje fizemos uma porção de coisas com vistas a irmos amanhã para a praia. O Bolão acaba de sair para lá com a Liege devendo ficar até domingo.

Como mandei a frigider agora de tarde e que será entregue amanhã de manhã cedo, foi muito oportuna a ida deles.

Iremos amanhã de tarde depois do almoço que o Lucas oferece pelo aniversário.

Está um calor danado e a previsão é que aumente até quarta feira quando, certamente, choverá.

Esperemos que não seja aquela chuva que inicia em meados de janeiro e vai até fins de fevereiro.

Estivemos na lojinha do Grêmio para comprar uma camisa do Danrlei que é o presente que o Lucas quer mas estava com tudo esgotado.

Tomara que o Grêmio continue como até aqui mesmo sem o Koff e o Luiz Felipe.

É o único clube brasileiro financeiramente bem e que não é patrocinado pôr nenhuma Parmalat.

En passant, o que está até cômico é situação que os novos prefeitos têm encontrado em seus municipios

: teve prefeito que levou todos os móveis, alegando que eram seus; outros estão themselves, retirando lixo das ruas e pôr aí empós.

A televisão  tem bastante assunto: aquele maluco que ganhou em Livramento, mandou queimar no pátio a poltrona do prefeito anterior; não sem antes ter comprado outra com dinheiro próprio, é claro.

Aqui em POA, já há secretário novo metendo o pau na administração anterior.

O Tarso-Deus vai ter um chilique.

Pausa para jantar, provavelmente café semi-colonial.

Não sem antes lembrar que tive que colocar um espantalho para evitar que os sabiás terminem com as uvas.

Os sabiás de Porto Alegre são intocáveis como as vacas da India mas que abusam, abusam.

Os que pervagam aqui pôr casa, são uns gordões atrevidos que comem tudo o que encontram: já tiveram a safra das lesmas, depois das pitangas e agora estão nas uvas.

Parecem umas galinhas de tão grandes.

Diz a Isinha que a horticultura lá em Ipanema é simplesmente impossível: os sabiás ficam no pau esperando que a pessoa plante aí partem para o bródio: não sobra nada.

Consta que o pai do Edu Galinha está firmemente disposto a fazer uma razia nos sabiás mas, certamente irá enfrentar uma reação muito forte da opinião pública e terá que recuar.

 

SEGUNDA FEIRA, 20 de janeiro de 1997, 1830h.

 

Viemos hoje do Imbé trazendo o Pingo e o Angelo; o Pingo com a bola cheíssima porque passou – e bem – na UFRGS e na PUC.

O tempo na praia está incrivelmente bom: penso que nunca passamos um verão como este.

Pelo jeito, irá continuar assim.

O que está brabo é o movimento: sabado aconteceu o show daquela baiana estressada, a Daniela Mercury e foi um horror. O pátio da frente de nossa casa virou estacionamento.

A Bia foi ao show mas só conseguiu chegar a um quilometro do palco.

Incrível o que tem de jacú neste Estado e tudo para ver uma falsa baiana dar uns pulinho desesperados com cara de quem está instrumentando uma operação de tórax!

A pensão este ano tem estado vazia porque a Patricia estava em S. Catarina e a Virginia em Torres. A isinha pôr aqui às voltas com o vestibular do Pingo. Bolão enrolando os doctors do Conceição.

Estivemos em Torres na semana passada e chegamos à conclusão que o Imbé é melhor do que qualquer outra praia.

Torres está um nojo, sujo, cheio de edifícios, esgotos na praia, um horrore.

(Sempre que eu grafo uma palavra de modo diferente, como p. ex. “horrore “ estou remetendo as partes para alguma obra literária; houve um personagem de um livro muito conhecido e de autor mais ainda que falava assim. Quem é o Autor e qual é o livro? )

Para chegar no mar, há que atravessar os cômoros da altura do Everest e caminhar uns seis quilômetros na areia, assim que ninguém vai à praia.

No Imbé, fronteira com Mariluz, a casa dos Tergolina está bastante adiantada e, pelo jeito, vai ficar excelente.

Penso que em março estará pronta.

O Tergolina embarcou sábado para a Italia assim que ainda não sabe do sucesso do Pingo na URGS.

Vai ficar muito satisfeito; pena que o sobrinho dele, o Rogério, aquele que ganhou um prêmio mundial de montagens elétricas, não passou.

Com a nova legislação do ensino, Lei de Diretrizes e Bases, parece-me que qualquer faculdade ofereceria uma vaga para ele; vou conversar com o Tergolina a respeito.

E, com outras pessoas também.

O Evaldo, não se sabe porque (?), cortou as árvores da frente da casa dele, talvez as únicas da redondeza cuja existência se justificava; acho que foi pôr indução porque os Frankestein também fizeram uma degola nas suas árvores.

No mais tudo tranquilo, apenas nota-se que o Américo não está muito bem.

Idem com o Evaldo. Os dois já estão com quase oitenta anos e aí a coisa começa a pegar.

Pela primeira vez, o Evaldo alugou a casa para fevereiro e só não o fez em janeiro porque a Ligia quis passar o mês lá.

A nossa casa aqui está muito bem e ainda hoje a Jost deu uma de jardineira e limpou os canteiros.

A Jost é a Olivia.

Até agora a Patricia ainda não apareceu para contar as novidades do Santinho.

Telefonou o Eduardo lá de Posse; está me esperando para ir até a Fazenda da Bahia.

Vou pensar no caso até amanhã.

A casa dele aqui em Porto Alegre teve um rompimento do barrilete da caixa dágua e inundou toda; inclusive o teto de gesso veio abaixo.

Ainda bem que somente houveram prejuízos materiais.

O Renato está em Punta com a família…

Paguei os IPTU e agora só falta os IPVA; é  uma dinheirama de impostos a cada inicio de ano.

Quem apareceu no Imbé, como de costume, foi o Venzon que acaba de comprar casa lá em São Paulo.

Outro migrante que não volta mais.

Conheci a casa do Pinho em Torres.

No comments.

Pinho me pediu uma fiança para poder operar com uma empresa de desconto de duplicatas.

Há certas coisas que, colocadas lado a lado, nos conduzem a pensar que realmente Descartes tinha razão.

Estamos em  água assim que não dá para tomar banho; esperemos que o problema, que é geral, esteja superado até as 2100 horas.

Pretendo resolver todos os meus pequenos galhos até amanhã ao meio dia e retornar ao Imbé na parte da tarde; o Pingo volta conosco eis que amanhã completa um ano de namoro com a Rachel.

Falando nisto, a Rachel a cada dia que passa, adquire características físicas de modelo; não demora muito e vai ter agência atrás dela.

Já está mais alta que o Pingo.

Jantaremos comida chinesa que sobrou do almoço: é incrível a quantidade de comida que os chinas mandam quando se pede tele-entrega.

Heloisa pediu para quatro e éramos seis(?); acabou sobrando mais da metade e não esquecer que um dos convivas era o Angelo.

Bem, vamos aguardar a chegada da água.

 

 

 

 

TERÇA FEIRA,21 de janeiro de 1997, 2300h, tempo bom.

Vamos ver se consigo copiar um texto; depois explico.

 

ANOTAÇÕES SOBRE COSMOLOGIA.

 Osvald Manning Cooper, lord Isham.

 

(Transcrito de News Science Monitor, Isham, Devonshire, England ano CClV, 432,56)

 

Devo admitir que durante a maior parte da vida, temas que suponho maiores, não fizeram parte de minhas preocupações, digamos assim.

Diria que o fato do meu cavalo Toby peidar quando mudava de marcha – o que me impedia de montá-lo quando acompanhando damas- parecia-me mais importante do que eventuais idiosincrasias de planetas e similares em suas andanças espaciais.

Dois artigos publicados no Sun mudaram o foco de meus interesses: o primeiro afirmava que pelo Efeito Estufa, em cem mil anos as nossas ilhas britânicas estariam transformadas em uma placida lagoa na qual afloraria apenas alguma perdida destilaria das Highlands.

Estatísticas comprovam que a terra aquece 1 gráu centigrado a cada dez anos.

O segundo deixava bem claro e com a mesma certeza, que em menos de 5000 anos entraríamos em uma idade glacial e as ilhas britânicas iriam fazer concorrência a Saint Moritz.

Estatísticas comprovam que a terra esfria 1 gráu centigrado a cada dez anos!

Convenhamos que , na marcha em que iam as coisas,  seria de se supor que a próxima singularidade poderia me surpreender em plena hora do chá!

Decidi portanto estudar o que, pomposamente, os autores chamam de Cosmologia e é o resultado destes estudos que alinho a seguir.

Em primeiro lugar, é absolutamente necessário esquecer os gregos pois tenho observado que eles são comummente citados como sabendo de tudo o que hoje estamos descobrindo: na verdade quando alguém afirma que Demócrito descreveu o átomo e suas partículas, jamais indica a fonte de suas afirmações.

Estaria tudo na Biblioteca de Alexandria que foi totalmente queimada em um incêndio provocado por árabes ou romanos: os otomanos dizem que foram os soldados de Julio Cesar que queimavam os papiros para esquentar a água do banho do imperador e os romanos afirmam que foi um xiita que mandou tacar fogo na papelama argumentando que se o conteúdo fosse bom, estaria no Corão e  se não fosse, seria virtuoso queimar.

Mesmo assim, mesmo tendo sido queimados, os papiros de Alexandria são citados a todo o momento como fontes de informações, o que me parece altamente suspeito.

Então, fora com os gregos!

Comecemos com a Biblia do rei James onde a criação é descrita tão detalhadamente que um bispo inglês chegou a afirmar que o mundo foi criado num dezoito de outubro, às dez horas AM no ano 480 DC.

Posteriormente mudou de idéia quando um paroquiano mais atilado observou que criar o mundo depois de Cristo seria, pelo menos, fornecer matéria para argumentações deletérias pôr parte de eventuais heréticos.

As coisas permaneceram assim pôr vários séculos apesar dos intensos debates sobre detalhes importantíssimos como pôr exemplo, quem nascera antes, o ovo ou a galinha?

Para simplificar digamos que o panorama começa a mudar quando uma maçã cai na cabeça de um desavisado cidadão que imediatamente bola uma lei conhecida como a primeira lei de Newton por causa do nome de seu descobridor, Newton.

Referida lei afirma que quando um corpo entra em movimento, não para mais e como tudo girava no espaço, iria continuar girando da mesma forma ad aeternum; e que o impulso inicial fora dado pelo Criador.

Todo o mundo ficou satisfeito: os da Biblia e os que achavam que a coisa não fora bem assim.

A  primeira lei de Newton contentava gregos e troianos.

Mas o referido senhor afirmou também que a matéria atrai matéria etc e aí, uns duzentos anos depois, uns chatos começaram a argumentar que se fosse assim, nesta altura dos acontecimentos já estaríamos fritando bem no meio do sol!

Voltávamos à estaca zero.

E, começaram a pipocar teorias.

A maioria, convenhamos, totalmente descabeladas e herméticas; geralmente os cavalheiros , para se dar ares de erudição, começam afirmando que do caos- bagunça- surgiu o cosmos – ordem.

E engrenam pôr aí com considerações sobre planetas escuros, luas negras etc.

Outros afirmam que o caos tende para o cosmos e que ainda não chegamos lá mas quando chegarmos vai ser uma explosão só.

Alguns, mais complicados, dizem que as coisa fluem ao contrário, que o caos é entrópico porque para organizar-se qualquer coisa gasta-se mais energia desorganizando o que está em repouso e portanto organizado.

Cita-se como exemplo arrumar a mesa para o chá: os movimentos da maid gastam muito mais energia do que a organização resultante!

Negócio meio felpudo mas até que fácil de entender.

Ultimamente, ou melhor, penultimamente, surgiu a teoria do big bang.

O universo nascera com uma grande explosão e os pedaços ainda estão voando pelo espaço.

De novo os murrinhas de sempre contestaram que em sendo assim cada pedaço se afastaria de todos os outros e o sistema solar, pôr exemplo não poderia existir ou, se existisse, as órbitas mudariam a cada segundo.

Contra-argumentaram os do big bang que o negócio funcionaria com um balão de aniversário se enchendo: as pinturas da superfície do balão se afastariam igualmente umas das outras e se expandiriam, mantendo o mesmo afastamento.

No início colou mas depois se viu que eram uma besteira maior ainda porque não estava explicado o que aconteceria no interior do balão.

Surgiu então a teoria do buraco negro um negócio que, como a Conceição, ninguém sabe e ninguém viu.

Supõe-se que hajam corpos no espaço com uma tal concentração de matéria que nem a luz consegue sair de lá e que esta singularidade vai até um certo ponto de concentração e aí explode.

O problema é: explode porque?

A existência dos buracos negros diz-se comprovada pelo fato de a luz encurvar-se quando passa pôr eles mas os chatos de plantão perguntam:

-Se curva? Ué! Não tinha que entrar?

Agora já se imagina que tudo, o Cosmos todo, seja um buraco negro e que nós estamos metidos nele sem perceber.

Ou que tudo seja um anti buraco negro e que igualmente estamos metidos nele também sem perceber.

É o que querem os defensores da teoria unificada, outro negócio complicado.

Ou pior ainda: nós estamos inscritos numa das 47 dimensões existentes no Cosmos e das quais só conhecemos três!

A existência de mais dimensões do que sonha nossa vã filosofia pretende-se comprovar pelo comportamento dos spins (literalmente peões de fieira, aqueles das brincadeiras de infância) os quais dão uma volta completa sobre si mesmo mas não retornam à face original.

Não é meio esquisito que as maiores teorias atuais se tentem comprovar via balões de aniversário, peões de fieira e diavolôs?

Porque há uma outra que se baseia no diavolô, aquela dos universos em oposição, e não estou exagerando.

Feitas as contas, a melhor posição a respeito parece ser aquela expressa pelo cacique Boi Sentado ao intrépido general Custer:

-You wrong, cara pálida!

Ou então a resposta dada por Peter Pan quando o Capitão Gancho quis lhe fazer um toque de próstata:

-Tais brincando!!!

 

 

(Artigo traduzido em janeiro de 1997 pôr J. Moura exclusivamente para a biblioteca de Napoleão e Joaquim Francisco, ambos Rodrigues de Freitas, cabendo acrescentar que as opiniões aqui expressas são de exclusiva responsabilidade de Lord Isham).

 

Como se vê, consegui!

É o seguinte: semana passada no Imbé, o Joaquim e o Napoleão ficaram trovando horas no meu pé sobre Cosmologia, um assunto que estudei bastante no inverno passado.

Os dois ficaram me impressionando com o que se costuma chamar de papo – cabeça, na verdade um pontapé no meu saco porque eu já estava careca de saber as grandes teorias que os dois expunham como de fossem grandes e formidáveis novidades.

E, principalmente, expunham mal: ouviram o galo cantar mas não sabem exatamente aonde.

Aguentei quieto mas ruminei a vingança: em aqui chegando, resolvi escrever um artigo gozando os pintas que é este aí de cima.

E tem mais pois não vai acabar assim: Lord Isham irá receber diversas cartas de leitores interessados e aí é que a coisa vai ficar boa.

Bem, o dia de hoje passou sem maiores novidades; vamos amanhã de manhã para o Imbé e o Pablo irá junto eis que o Diego está baleado com gripe.

Heloisa, a pedido da Alda, convidou o Paulo Martins.

A Alda não aguenta mais o Paulo e, agora de noite, quando estivemos lá, praticamente pediu a ele que sumisse do mapa, desaparecesse no terreno: acontece que a Alda é idosa mas não é velha e aí fica dificil aguentar o pátria que passa o tempo todo doutrinando de como ela deve se comportar para não morrer nas próximas vinte e quatro horas.

Bem.

O Pingo já foi hoje de tarde, de ônibus pôr causa do aniversário de namoro.

Deixamos um rancho de delicatessen para o Bolão quem, como de costume, declarou enfaticamente que não irá consumir nada delas.

Então tá.

O Eduardo Bagé telefonou de Posse querendo que eu fosse para a Fazenda mas resolvi não ir porque estou com o garrão doendo muito e lá as caminhadas são longas.

Pode não ter sido uma boa decisão…

É o que veremos no próximo capítulo.

O Pingo está na dúvida entre URGS e PUC, coisa que não tem cabimento; ele alega que os amigos dele vão para a PUC, esquecendo que só vão porque são burros, rodaram na URGS.

Quando o Tergolina chegar decerto orienta as coisas com mais firmeza do que a Isinha.

E aqui vou me despedindo, decerto até ao final do mês quando voltarei para ficar pôr uns dez dias eis que terminam as férias forenses e tenho ainda uns pepinos para resolver.

Não sem antes registrar que ontem telefonei para o Amaury cuja secretária declarou que retornaria a ligação em seguida pois o referido estava ocupado.

Como não ligou, deixei um bilhete para ele mandando-o à merda.

E, boas noites.

 

SEGUNDA FEIRA, 030297, 0030h, tempo razoável.

 

Voltamos hoje do Imbé para o aniversário da Alda que, como sabemos, é amanhã.

Ano passado, esse episódio foi repleto de suspense mas ao quem tudo indica este ano a coisa vai tranquila.

Tivemos também, em 95, a pneumonia da Heloisa que foi realmente complicada; como se depreende, 97 entra mais favorável.

Eu é que continuo com o garrão baleado o que é muito chato mas, suponho, não é sério.

O tratamento é repouso e Voltarem mas não estou muito afim.

O Bagé, que está com o mesmo dissabor, desistiu do tratamento porque seu estômago quase explodiu com o Voltarem o que me induz a nem começar.

O Imbé esteve agitado com a gurizada toda; o tempo manteve-se bom e só choveu mesmo na quinta feira passada.

Pingo fez churrasco para a turma dele, comemorando o vestibular e, exceto isto, tudo é repeteco do ano passado: o Angelo no futebol, agora acompanhado pelo Pablo, o Lucas comendo torradas, o Diego vendo televisão, as reuniões da turma do Pingo na frente, o Marcelo jogando futebol, a D. Vera reclamando,a Heloisa partindo do principio que os netos estão a beira de um colapso pôr desnutrição, eu limpando a piscina etc. etc.

A Alba vai dando conta do recado lindamente e ainda encontra tempo para fazer uns pães realmente muito bons.

Quem anda meio baleado é o Dr. Nilson e acho que ele encheu o saco e seja o que Deus quiser.

Evaldo alugou a casa, houve uma desmatação geral na vizinhança, o Américo está sumido, Vita nem apareceu ou seja, o veiedo começa a abandonar o proscênio.

O que é absolutamente normal.

A mansão dos Tergolinas está praticamente pronta e, de acordo com a Isinha, logo teremos lá grandiosos churrascos.

Presumo que hoje não tem mais ninguém pôr lá porque a Isinha que estava com toda a sua turma deve ter retornado eis que a matrícula do Pingo é amanhã.

Devemos retornar quarta feira com a Virginia e sua turma, Diego e Pablo e decerto o Angelo.

Aqui, com o Bolão, está tudo OK.

Já instalei o BB Personal Banking e amanhã devo ir ao Forum ver dois processos.

Um é o da tia Honorina que começa a se encaminhar para o final.

Também amanhã marquei hora na Leila.

Heloisa almoça com a Alda no Riverside e `a noite pretende-se ir no Nanking.

Tudo irá depender da entourage da Alda que adora comer bem mas tem certa prevenção quanto a pagar.

Baseado nas experiências anteriores, diria que irão forrar a barriguinha pôr conta  ou da Alda ou da D. Heloisa e deste que vos fala.

O saco da Alda já estourou faz horas com os penduricos mas não há muito pôr fazer a não ser cara feia, o que como sabemos, não assusta mais ninguém.

 

QUARTA FEIRA, 05 de fevereiro de 1997, 1130h. tempo bom.

 

Afinal, os festejos de aniversário da Alda transcorreram na mais perfeita tranquilidade: ela e Heloisa foram almoçar no Riverside, depois vieram para ca.

Os netos daqui de casa vieram todos, faturaram uns sanduiches elaborados na hora pelo Dr. Barrios e fim.

Hoje devemos ir para o Imbé de tarde: ainda tenho que ir buscar a frigiderzinha lá na Isinha que ira alugar a casa da Matias; como estou com tendinite, vou recorrer ao auxilio do João que, gentilmente ofereceu-se para me ajudar em tudo o que eu precisar eis que está devalde, como se dizia na eras chamadas priscas.

Ao que tudo indica, com exceção do Pingo, enrolado na matrícula, a gurizada vai toda para o Imbé.

A Virginia deve ir amanhã com a turma dela e mais o Pablo.

Dá para organizar um bloco familiar de carnaval mas parece que não se usa mais blocos de carnaval.

Até bem pouco tempo, a moçada se reunia, escolhia um modelo de fantasia – geralmente sacos de estopa – pintava com dizeres pretensamente engraçados, reunia-se na casa de um dos participantes, tomava umas que outras para esquentar a máquina e partia para os clubes.

A tônica das fantasias mais elaboradas, era o chapéu de marinheiro, o saiote tirolês com um chapeuzinho idem.

Lá em casa, no Imbé, ainda existem nos socavões, varias fantasias da época em que a turma frequentava a SAPI e participava dos “assaltos “aos clubes de Capão e adjacências.

Negócio era mais elegante do que hoje.

Depois que os aratacas inventaram os trios elétricos, massificou, abastardou e apatifou.

Aliás, em todo o lugar que os aratacas impõe a cultura deles, muito forte pôr sinal, as coisa se abastardam.

Vide os paraibas de sandália de dedo que tomaram conta do Rio de Janeiro.

Convém lembrar ainda o Baile do Mingau da SAPI, frequentado históricamente pôr todos os mirins da família e onde, segundo me informaram, o Pablo, o Diego e o Henrique, irão comparecer este ano.

A Virginia até já comprou fantasias, decerto no conhecido Sr. Henrique!

Sessenta pilas pelas plumas e paetês, três fantasias, coisa finíssima!

Bem.

Ontem morreu o Paulo Francis de parada cardíaca; um sujeito com opiniões cortantes mas, temos que admitir, honestas e despojadas de interesses secundários.

Leio o Francis desde o tempo do Pasquim. Ele e o Lessa eram uma paulada nas convenções.

Os dois acabaram emigrando: o Lessa para Londres e ele para Nova Iorque.

O Lessa ,de vez em quando publica alguma coisa.

Requiescat.

Também o Galo Missioneiro, que estava indo para a zona conflagarada do Sem Terra, faturar alguma beirada política, sofreu um acidente, infelizmente sem maiores consequências.

O PT explora políticamente o movimento dos Sem Terra o que tem sido objeto da novela “O Rei do Gado”que pretende mostrar que a luta pela terra está encobrindo uma disputa política pelo poder.

Esse modo de agir do PT- burro porque facilmente perceptível- vai acabar com o MST como acabou com a CUT e até mesmo com o CEPERS.

A verdade é que, quando um grupo de pessoas se reúne, embebe-se de messianismo e coloca-se num extremo, o fim já se desenha inexorável.

Quando ainda há critica interna expressiva, o Grupo se desfaz naturalmente; quando não há critica interna, geralmente o fim é trágico.

Penso que o PT tem crítica interna, mesmo que totalmente descabelada, assim que durará mais uns anos e irá para o lixo da história.

Este é o caminho normal.

Mas há  também a proposta do dilema:

Com a aprovação do instituto da reeleição, a disputa legal pelo poder acabou para o PT cuja massa de manobra está sendo muito beneficiada pelo Real.

Eles têm duas opções: ou ficam na legalidade e mermam ou vão para a luta armada.

É justamente este dilema que estão tentando decidir via MST.

Vai morrer muita gente do MST e nenhum do PT; quando os inocentes úteis perceberem que estão participando do velho jogo estalinista, já será tarde demais para salvar o movimento.

Ainda este ano as coisas se definem.

Bem.

Como já disse, iremos para o Imbé hoje e eu devo voltar depois do carnaval.

Aí fico até março.

Dia 17 devo ir na Leila fazer a limpeza profunda das gengivas; ontem fiz a normal.

Segundo o Carlos devo ir também no Sergio e, talvez num traumato ver este negócio do tendão de Aquiles e adjacências.

Sei que o tratamento é imobilizar e tomar Voltarem mas, quem- há- de?

No fim vai ter que ser assim mas, até lá me arrasto pelas ruas do Mario Quintana.

No outono, melhoro porque termina a hibernação dos hiperbóreos dos quais sou um lídimo representante desterrado para os trópicos.

En passant, estive lendo dois livros sobre Mecânica Quântica e a impressão que me ficou é de que os pátrias não estão tratando a coisa de modo cientifico, estão voltando à ciência quimérica, à Magia.

Resumindo a opera em português, ninguém sabe afinal o que é um eletron e pôr isso o chamam de ente quântico, ora energia, ora matéria.

Mas não é que seja energia ou matéria, é que se comporta como uma ou como outra ou como as duas dependendo da sua vontade no instante da observação.

Há uma experiência famosa em que um eletron atravessa um buraco numa tela e vai impressionar uma chapa de fósforo. Ele atravessa e aparece a luzinha na tela.

Aí os pátria fazem dois furinhos na tela e o eletron passa ao mesmo tempo pelos dois e produz um espectro de franjas mas não uma franja newtoniana, equacionável mas sim umas franjas meio malucas.

A partir daí os fisicos enlouquecem e começam a subir pelas paredes, inventar 47 dimensões, eliminar a dimensão tempo etc. etc. e tal!

Voltarei ao tema.

Até a próxima.

 

DOMINGO, 16 DE FEVEREIRO DE 1996, 14:22, tempo bom.

 

Estou chegando do Imbé; vim mais cedo para evitar o tráfego e realmente a viajem foi tranqüila.

Saí de lá ao meio dia; ficaram os Barrios, os Fietz e o Pingo.

Com a Heloisa, é claro.

Os Tergolinas foram para Santa Catarina, Mariscal eu suponho, levando o Angelo e o Lucas.

Na volta, penso até que já podem ir para a casa nova que, pôr fora, está concluída.

Tremendo casarão.

A Mãe continua pôr lá; estivemos ontem de noite visitando-a e não pareceu-me bem; na verdade, uma pessoa com mais de 90 anos, dificilmente passa um longo tempo sem um achaque e a mãe faz tempo que está normal.

Esperemos que não seja nada.

Ontem foi a festa I ( vai haver uma II) do aniversário do Pablo e estava muito bonita: piscina com chafarizes, mesas debaixo da figueira, balões, iluminação feérica e um monte de gurizada alternando entre a piscina e as comilanças. Dr. Barrios fez um galeto bastante bom; Bolão e sua turma, não sabemos porque, não apareceram.

Sobrou um monte e certamente o almoço de hoje – e também a janta – serão Lavoisier.

O tempo na praia tem estado ótimo e sem sombra de dúvida este foi um dos melhores verões dos últimos anos.

Se continuar assim, pretendemos ficar até março.

Quanto mais tempo se fica pôr lá, mais difícil fica voltar: é uma vida mais simples..

O Joaquim Freitas já mora pôr lá e o Napoleão está pensando no assunto.

Uma banquinha de advocacia no Imbé deve ser uma experiência interessante.

Que problemas legais podem afligir aqueles nativos?

Trabalhistas certamente; questões de terra em segundo lugar e algum penal passional.

O Napoleão tem aparecido para matear e conversar: ele está escrevendo um livro cujo pano de fundo é a Guerra do Paraguay, muito interessante.

Como ele carrega uma vastíssima erudição no assunto, resolvi tirar um a velha dúvida: O que, afinal, causou a Guerra do Paraguay?

Porque existe a versão clássica, o expansionismo paraguaio e a versão mais moderna que atribui a guerra aos interesses comerciais ingleses.

Pois o Napoleão prova que realmente o Solano Lopez queria expandir suas fronteiras para recompor o antigo país missioneiro.

É indubitável.

Havia em S. Borja um padre francês, o Padre Gay que durante mais de cinco anos alertou D. Pedro II sobre as intenções do Lopes; havia também todo um plano de fortificações ao longo da fronteira que, na época, eram um portento.

E pôr aí empós.

Assim que “As Veias Abertas da América Latina ‘ do Eduardo Galleano, não é nada mais do que

outra tentativa revisionista fajuta, à luz do marxismo.

Este negócio de revisionismo focado em doutrinas, é um saco.

Ultimamente, aqui no RGS, escreveram-se trabalhos tentando provar que o Bento Gonçalves era um serviçal das elites pastorís e, além disso, ladrão de cavalos.

Deu rebu com os tradicionalistas e os do PT mais à esquerda, autores da malfadada tese, tiveram que meter a viola no saco.

Também está em moda reescrever-se a vida de Cristo e tem cada versão de arrepiar o cabelo.

A verdade é que se há uma história escrita entre o primeiro e o terceiro século e umas outras atuais, baseadas em deduções e cada uma mais fantasiosa que a outra, é de aceitar-se como mais verdadeiras aquelas escritas em época mais próxima do personagem.

Mas isto é uma fofoca antiga que nasceu com o racionalismo do século XIX; até o Eça andou metendo a sua colher no tema.

Quem anda às voltas com isto é o Vares quem esgrime com os essênios e os manuscritos do Mar Morto; na verdade ele usa argumentos do Gore Vidal de quem ele sequer ouviu falar, eu suponho.

 

TERÇA FEIRA, 18 FEVEREIRO DE 1997, 18:00h tempo chuvoso.

 

Estou terminando minhas missões em POA, pelo menos até ao dia 5 de março quando de novo começam as contas para pagar.

Como sabemos, estou com um problema que presume-se seja uma tendenite no tensor do calcanhar, vulgo tendão de Aquiles.

Vim com a intenção de consultar o Dirani mas o Carlos indicou um outro personagem cujo nome é – pasmem – MONIK!!

Se eu não gostar do primeiro contato, vou cumprimentá-lo:

– Como vai, Dr. Evans?

Mas, o que está realmente acontecendo é uma conspiração que pode ser perfeitamente caracterizada pelas seguintes evidências as quais se constituem em fortes indícios::

  1. O Carlos sempre declarou que para casos supostamente assim, é preciso imobilizar;
  2. O Carlos, mesmo sabendo que eu já havia marcado hora com o Dirani, insistiu com a Monique Evans;

3.Perguntado pôr mim se o referido Monique tinha aparelhos de raios X no consultório, o Carlos declarou que ele certamente iria me endereçar para o Hospital da PUC onde, na quinta feira de manhã, seria feito o necessário…

  1. A Virginia me telefonou ontem de tarde para saber como ficava a ida para a praia da Helena, uma vez que eu estava engessado!
  2. A Patrícia telefonou ontem à noite para se informar de algumas coisas que idem tinham a mesma finalidade da ligação da Virginia.

Ficam portanto caracterizados os fortes indícios de uma conspiração em marcha para engessar o meu pé!

Acho que não irei topar.

Gesso só no fim do veroneio que pretendo seja em meados de março.

Salvo argumento muito forte mas não me parece que um cara chamado Monik cconsiga me convencer de algo que não quero.

É o que veremos no próximo capítulo.

Os Fietz vieram da praia porque houve um atrito entre o Paulo e o Pingo motivado, inter coetera, pelas

encheções de saco que o Pingo e os outros maiores fazem com o Henrique.

Não me parece que seja uma causa nobre para um arranca-rabo mas enfim, como eu não estava presente e não sei a intensidade do agravo, me reservo para opinar depois.

Na verdade, quando se misturam jovens de idades diferentes, há uma natural tendência dos maiores encherem o saco dos menores; no meu tempo, eles não só enchiam o saco como ainda apelavam para a ignorância.

Como sabemos eu até hoje mantenho um profundo desprezo pêlos meus primos maiores e cada um que morre, leva junto o meu indefectível: “Já vai tarde!

No momento estou preparando uma galinha com massa para o jantar porque realmente não estou motivado para jantar fora.

Não sei pôr quais cargas d’agua, mesmo tendo melhorado muito, ainda não retomei o caminhar normal: acho que, em casos assim, a cuca manda um sinal de alerta para os pés que se negam a retomar uma marcha mais elegante.

Assim que estou um ancião arrastando os pés. Deplorável!

O Bolão até agora não apareceu; decerto está levando os coleguinhas em casa.

Alem de taxi, ele também presta serviços gerais para as colegas moçoilas que moram sozinhas e não sabem consertar torneiras.

Então tá.

A Alba deve estar na terra mas não apareceu o que me parece óbvio.

A Olivia deu uma geral ontem daquelas que dá prazer só de olhar; ainda pôr cima comprou comida para a gata com o dinheiro dela.

Grande Olivia: se eu voltar a ser milionário, contrato-a para minha valete e aí vai ser uma mordomia só.

Uma coisa que sempre quis ter e nunca consegui, foi ter um valete, um negrinho para mandalete e fazer o mate, como era a Maria-Preta lá na Vacaria.

Isto decerto é influência do ADN de minha avó Olinda que mantinha umas três mucamas em roda para coçarem a cabeça dela em busca de virtuais piolhos mas, na verdade, fazendo cafuné.

Não chego e tal extremo mas um negrinho para preparar o mate é uma necessidade, uma prática civilizada.

Quem sabe isto não é saudade do ordenança, uma sabia instituição do viver castrense?

Hoje estive na APLUB pegando material para eventual associação do Carlos a um plano de renda.

Realmente os planos são bons, bem melhores que os americanos.

Faz tempo que eu insisto com o Amaury para mandar alguém procurar o Carlos mas como nadie se manifestasse, fui lá e peguei o material uma vez que sou corretor de seguros.

A próxima briga vai ser conseguir sentar o Carlos numa mesa para a decisão que penso necessária.

Imagina o Carlos se aposentando com os novecentos pilas do INPS!

Alias, fazer plano de aposentadoria, é bom para qualquer um, principalmente porque abate do Imposto de Renda.

Os planos americanos são mais caros e, óbviamente, não abatem nada para o IR.

Ontem fui na Leila que fez limpeza profunda em minhas gengivas o que não é mole, durante e principalmente depois.

Informou-me a criola que no forte de Imbui, lá em Niteroi, existe uma casa de hospedes que é uma loucura; conheço o Forte e a sua praia é realmente uma das coisas mais bonitas que jamais vi.

A diária da suite presidencial, com direito à refeições, é de R$60,00…

Obviamente que, para ser bacana assim, a casa de hospedes não foi construida pelo Glorioso que a recebeu de presente da Petrobras.

Uma semana pôr lá, viria muito bem; pensemos no causo.

Fui olhar minha massa e verifico, com prazer, que encaminha-se para um grand finale.

Só faltaram as ervilhas que não existem no estoque da copa; aliás, existe muito pouca coisa em termos de suprimentos classe 1.

Teremos que fazer um rancho imediatamente após a volta; nem sal eu encontrei e tive que usar um pacote da reserva da churrasqueira.

Com a história do Plano Real, ninguém mais faz rancho mas, se assim sim, assim também não

Én passant, hoje ouvi uma entrevista com o Tarso Genro a respeito de análises que o chamado Grupo do Mexico anda fazendo para melhor explicar o que eles chamam de Neo-Liberalismo.

O Tarso anda se agitando pelo mundo todo e fica claro que isto visa a sua candidatura à Presidência .

Acacianamente vou dizer que ele não é trouxa e – pelo que ouvi – está razoavelmente aculturado para governar o país.

Vejo a coisa da seguinte maneira:

O Fernando Henrique, que também não é trouxa e muito menos, herdou uma bomba terrível, talvez a pior herança em tempos republicanos e está conseguindo colocar ordem na casa.

Considerando os vulto e o número de pepinos subjacentes, teve que fazer muitíssimas concessões mas não entregou toda a rapadura.

Tão pouco partiu para um abraço incondicional no “Laissez Faire, laissez passer “.

Assim que, saindo o FHC e entrando o Tarso, estaríamos numa posição muito boa pois com a casa em ordem, é possível cantar de galo e apertar alguns parafusos internos e externos.

Ele, o Tarso, usou uma frase interessante:

– Não queremos ganhar eleições (o PT ) em cima de cataclismos ou seja, não vamos torcer para o FHC dar com os burros na água.

Ou seja, eles querem ganhar as eleições provando que há soluções melhores que o Neo – Liberalismo.

Até acredito porque o peso do capital aventureiro internacional no NL. é muito grande e aí estamos lidando com gente da pior espécie.

O negócio é moralizar e diminuir a máquina do Estado, incentivar a produção interna propiciando capitais baratos e efetivar uma reforma agrária atuante o que irá – deseja-se –  motivar um retorno à terra evitando a urbanização e seus terríveis efeitos.

Não foi  o que o Tarso disse, o negócio dele está bem mais elaborado porque um programa presidencial deve conter temas mais complexos mas, em resumo seria isto.

Mas que ele já é candidato e sabe disto, sabe.

Inclusive não nega mas coloca-se numa posição de independência só subordinado à vontade do PT o qual, pôr sua vez, esgrime com a vontade popular.

Ontem ouvi uma longa entrevista com o Lula e, se depender dele, o amigo Tarso está frito.

Arataca, quando fala em gaúcho para âmbito de Brasil, tem uma crise.

O Lula pressionará para que o Olivio seja candidato ao governo do Estado o que colocará o Tarso muito mal pois a conclusão será: se não serve para o Estado, muito menos para o país.

Na verdade o Lula considera-se meio dono do PT que ele fundou e também acha que o seu partido não é lugar para intelectuais como o Tarso.

Maybe he is right.

Bem.

Acabo de fazer uma inspeção no meu tendão de Aquiles e verifico – consternado – que ele está rompido e bem rompido o que significa, no mínimo gesso.

Io sono frito!

Devo lembrar que na revolução de 93 os prisioneiros eram mantidos presos de uma maneira bastante eficiente e sui-generis: perfurava-se pôr trás do tendão de Aquiles e passava-se uma corda pelo furo.

Aí podia-se deixar os pátrias sem maiores cuidados porque se corressem para fugir, rebentava o tendão e eles ficavam aleijados para o resto da vida, coisa que ninguém queria.

Ainda conheci um negro velho ali na Barra do Ribeiro que perdeu o movimento dos dois pés pôr ter tido os tendões arrebentados.

ambém era comum, depois de prender os inimigos da maneira descrita, os gentlemen encostarem uma faca no pescoço deles e proporem o dilema: ou corre ou te degolo.

Aí o pátria corria, arrebentava os tendões e enfiava a cara no chão; a seguir, geralmente, era degolado.

Afirma-se que a revolução de 93 nunca será superada em barbárie.

Aqueles SS que supostamente faziam abajures com a pele dos untermeschen, se comparados com o povo de 93, não passavam de uns maricas sentimentais.

Eles jamais, pôr exemplo, carnearam untermeschen e obrigaram aos parentes a comer o churrasco decorrente, na frente da casa.

E houve coisas piores.

Acho que já comentei sobre tais práticas gentis de nossos antepassados nem tão antepassados assim.

Untermeschen é sub – raça e assim eram classificados pêlos alemães os judeus, ciganos, balcânicos etc.

Quando a Claci diz que foi enganada pôr um brasileiro ou que era vizinha de uns brasileiros, ela está pensando em untermeschen.

Ela e vários outros.

Na verdade, antes da II Grande Guerra, os brasileiros eram tremendamente descriminados pêlos alemães

na região de nossas colônias.

Ainda me lembro do que acontecia em Taquara e isto comigo que era oriundi e dono da terra; imagine-se os negrão.

O meu pai vivia no pau com a alemoada e não poucas vezes chegou em casa com o nariz sangrando por brigas com integralistas e nazistas.

Ele fez o discurso do lançamento da pedra fundamental da igreja de Canela no qual meteu a lenha no arcebispo D. João Becker, um germanófilo escancarado.

O arcebispo estava presente e a comunidade revoltou-se com o seu Noé quem nunca mais foi convidado para fazer discursos.

Ainda me lembro da cena: no lugar onde hoje é a frente da igreja, havia um terreno limpo e o seu Noé falou  de pé, segurando a guarda de uma cadeira de palha; na medida em que falava metendo o pau nos nazistas e integralistas os assistentes ficavam inquietos e o arcebispo mais ainda.

Lá pelas tantas o D. João Becker não aguentou mais e se retirou.

Convenhamos que o seu Noé era meio indigesto.

Bem, vamos dormir que já estamos no dia dezenove, horário solar.

 

QUARTA FEIRA, 19 de fevereiro de 1997, 18:30h, tempo chuvoso.

 

Acabo de retornar do ortopedista que confirmou uma coisa que eu descobri ontem: o meu tendão de Aquiles já era, está rompido de forma total.

Agora só com cirurgia.

Olha a história do escravo de 93 se repetindo; ainda ontem eu falei nisto.

De qualquer forma, vou para a praia amanhã e na semana que vem a gente vê o que faz.

Se alguém leu com atenção o que escrevi aí para traz irá verificar que eu prego a necessidade de aproveitar o verão porque pode não se repetir ou, pelo menos, complicar; a idéia de ficar até março se acabou no tendão de Aquiles, quem diria.

Bem.

Hoje o Grêmio estréia na Libertadores contra o Cruzeiro de Minas, um jogo duríssimo.

Como a Alba deixou a janta pronta, não tenho com o que me preocupar.

Certamente ainda devo enfrentar uma conferência com o Dr. Barrios que irá exigir que eu baixe amanhã, faça exames preliminares, estes babados.

Só na semana que vem.

Se eu tiver que operar lá pela quarta feira, a Heloisa  vai ficar feliz  porque não irá festejar o seu aniversário.

Chateação para uns, alegrias para os outros como diria o embaixador da Finlândia.

Olha aí outra remessa a livros famosos de autores conhecidos.

Quem sabe?

Eça, Os Maias.

O embaixador da Finlândia só falava pôr clichês.

– Cést épatatant, vraiement épatant!

Acaba de telefonar a Virginia informando que a Helena segue hoje para o Imbé com o Antônio Pedro.

Talvez os guris da Patricia sigam comigo amanhã.

Depois do papo com o Carlos, fixo o dia da volta.

Fim da festa, fim do dinheiro, dedicatórias a um cruzeiro: O Pingo e o Angelo é que vão ter que retornar ou, quem sabe, a Isinha fica pôr lá com eles.

Falando nisto, nem sei onde andam os Tergolinas quem, presumo, já tenham voltado de Mariscal.

Pelo menos o Tergol que não está de férias.

Até agora não deram nenhum sinal de vida.

Se eu tiver que passar um tempo maior em repouso depois da operação, vou lavar o caco neste computador: termino Osvaldinho, Magia e ainda reformulo Decisões.

Cabe registrar que o Monik é um cidadão já maduro, tranquilo, não enfeita o perú e me pareceu muito seguro.

Não cobrou a consulta.

Fiquei com muito boa impressão.

Pôr hoje é só, aguardemos, para jantar, o Bolão, encarregado do serviço de copa.

Ainda  pôr registrar o papo com o Dr.Barrios o que farei ainda hoje.

 

QUINTA FEIRA, 20 de fevereiro de 1997, 10:30h, frío.

 

Pode parecer brincadeira mas, está frio; um sol bonito mas um ventinho gelado, daqueles que costumama aparecer em maio.

Tivemos um verão normal e se a sequência for um inverno idem, ainda é muito cedo para frio.

Onde andarão os partidários do efeito estufa, depois deste inverno no hemisfério norte?

Há certas teorias ecológicas que são válidas e evidentes mas, uma boa parte delas, é coisa de maluquetes.

As soluções deles também me parecem inócuas, afastadas da realidade.

É claro que já não há mais animais na Africa como há 50 anos atrás: isto é uma evidência.

Porque? Porque foi a partir da extinção das colonias que os negrão tiveram aceso irrestrito à armas de fogo potentes e passaram a ter liberdade para caçar.

Desde então os negrão começaram a matar tudo o que se mexe mas principalmente os elefantes por causa do marfim e os rinocerontes, pelo chifre que vendem para os chineses – outros tarados – como afrodisíaco.

E aí, cabe uma opção: ou os bichos ou o crioléu.

Se a escolha cair nos bichos, acaba com o crioleu ou, pelo menos, com os países(?) deles.

Há ainda uma outra hipótese bastante razoável: do jeito que as coisas vão pela Africa, os pretos ( políticamente correto), vão se acabar antes dos bichos.

De qualquer maneira, as soluções apresentadas pelos maluquetes, geralmente sociedades protetoras, me parecem vãs e com um ligeiro smell de picaretagem.

Nesta coisa de ecologia, criou-se um mito de os indios sabem conviver com o bicharedo e com o mato sem alterar o equilibrio entre as partes.

Isto é a maior bobagem que já ouvi: os indios só não acabam com o bicheredo porque não podem, as suas armas são muito precárias.

Dá um rifle para um botocudo e ele mata até sapo.

O mesmo acontece com o arvoredo: já contei o caso de um amigo que comprou uma fazendinha no Paraná onde havia muita erva mate. Os botocudos foram pedir a ele licença para colher erva e ele deixou, inclusive pensando que estava dando uma de gaúcho civilizado porque os seus vizinhos paranaenses não queriam nem ouvir falar de indios em suas terrras.

Pois  bem, os referidos acabaram com o erval dele porque seu método de colher é derrubar as árvores para arrancar as folhas!

Esse papo geralmente acaba em racismo.

Eu não gosto de indios.

Uma das coisas que distinguem o homem dos animais é que estes não riem.

Indio não ri.

Então tá.

Citação ouvida num filme com vistas aos fãs de esportes náuticos:

– Barco é como uma prisão em que você ainda tem o risco de morrer afogado.

No momento os caras da prefeitura estão fazendo uma razia nos cinamomos aqui da frente da casa.

Se depender de mim, podem cortar tudo e foi exatamente isto o que acabei de dizer para os intelectuais da SMAM.

Mas, garanto que eles não vão cortar coisa nenhuma: há dois galhos que logo irão cair no coco de alguém.

O método da SMAM é deixar cair a árvore em cima de alguem e só depois cortar.

É o popular método lusitano.

Esquecia-me registrar que ontem o Grêmio ganhou – e muito bem – do Cruzeiro de Minas, 2 x 1 lá no Mineirão.

Se o Grêmio conseguir um bom centerforward, fica quase imbatível.

O atual é muito fraco e não tem as características fisicas nem mentais de rompedor.

Geralmente o bom centerforward deve assemelhar-se a um barril, ter coxas grossas, cara de malfeitor e personalidade idem; como o Claudiomiro.

O Luisão, que anda em desgraça no Palmeiras, seria uma boa solução.

Vou para a praia de tarde sem os guris da Patrícia porque o Pablo pegou umas perebas e deve tratar delas.

Só estou esperando a Alba.

O Monik qur me operar lá pela quinta ou sexta feira assim que devemos voltar terça ou quarta.

Até lá ele quer que eu não fume e nem tome remédios.

Segundo informações do Dr. Bolão, a anestesia para a cirurgia em tela é a peridural e aí vai a pergunta: O que será que o ato de fumar tem a ver com peridural?

O Monik ficou chocado quando eu disse para ele que o trauma do meu tendão poderia ter sido causado justamente pelo fato de que eu passara um mês sem fumar e em consequência engordara uns quatro quilos.

Ele me disse que era a primeira vez que ouvia alguém atribuir males ao fato de não fumar.

E eu recomendei a ele que lesse a biografia do Benjamim Franklin.

Devemos lembrar que – entre outras coisas – batatas e tomates já foram considerados venenos terríveis.

Eis algumas verdades científicas que já foram apregoadas:

– Coma mais ovos. Ovo é saúde.

– Coma mais carne: são as proteinas animais que fazem a sua máquina funcionar.

– Nunca faça exercícios depois dos quarenta anos.

– Bebiamo piu late, la late fa bene.

-Tome Vinho do Inca ( cocaina): é o melhor fortificante.

– Azeite de soja descalcifica: evite-o .

– Churrasco dá câncer.

– Chimarrão dá câncer.

– Três a quatro dozes de uisque pôr dia, mantém você saudável.

– Jamais coma melancias com vinho.

– Nunca coma moranguinhos.

– Tome óleo de fígado de bacalhau

E pôr aí empós assim que não dá para levar a sério estas regras.

Como na Ecologia, também na Medicina tem muito maluquete querendo aparecer.

Segundo o Dave Barry, a cada ano são publicados cerca de 400 livros versando regimens para emagrecer e que vendem cinco milhões de exemplares só nos USA.

O nosso vizinho Uebel fatura uma nota operando carecas que sabem que aquele cabelo de boneca não dura dois anos.

Razão tinha o Barnum: para cada esperto nascem dez trouxas.

Nunca esqueço um artigo deletério que o Pitigrilli escreveu sobre as canetas bic, logo que apareceram.

Foi uma lenha terrível porque o Pitigrilli quando atuando em demolição era terrível.

Anos depois, vivendo na Argentina, local onde as bic apareceram, inventadas pôr um húngaro decerto nazista, o Pitigrilli escreveu outro artigo, dizendo justamente o contrário.

Alguma grana correu.

E, geralmente é o que acontece: quando surge um postulado tipo faça isto ou faça aquilo baseado numa vaga pesquisa de uma mais vaga Universidade, cherchez la grana.

A Globo é especialista: até previsão do tempo os caras mudam, desde que bem pagos pelos hoteleiros de Gramado ou do litoral.

O número de vezes que a Globo anuncia neve na Serra Gaúcha é simplesmente ridículo.

E, sempre no Jornal nacional; daí, cariocas e paulistas bobocas se mandam crentes que vão atirar neve uns no focinho dos outros.

No fim, só compram malhas, comem aquele sórdido chocolate banhento e pagam para mijar no Caracol.

Ou então comer churrasco de gringo lá no Garfo e Bombacha onde a patroa, o  cozinheiro e os garçons, no meio da lide, se fantasiam com roupas supostamente gaúchas e ficam sapateando desesperados para lá e para cá em cima de um tablado mambebe.

Também cantam musicas cujas letras exaltam a bravura, a valentia e a galanteria dos gaúchos.

Após o que, descem de lá e perguntam:

– Vai um anioline aí, chefe?

Não dá, não dá.

Outra safadeza é  a clássica manchete da ZH das quinta feiras : Fim de semana com muito sol no litoral.

Aí você chega lá e encontra o vento rugindo, a chuva alagando e um mar de café preto com borra de chocolate pôr cima.

Como já diziam os romanos:

– A quem interessa?

Os franceses, numa época que já passou,  sugeriam:

– Cherchez la femme.

A ironia dos romanos ainda permanece válida mas a dos franceses já foi para o  brejo e não vou comentar porque para não ser apodado de machista.

É isto aí.

Os Tergolinas estão na terra, gostaram demais de Mariscal; Isinha talvez vá para o Imbe’ ficar com a gurisada até o final de fevereiro.

Daqui a pouco vou para a praia e fica o Bolão no comando.

Volto terça,

Até lá.

 

 QUARTA FEIRA, 26 de fevereiro de 1997, 20h15min, tempo bom.

 

Como se depreende, hoje é o aniversário da Heloisa que não está festejando porque amanhã baixo ao hospital ( ainda não sei qual é ) para a cirurgia do garrão; acabei de fazer ultrasonografia e deu 70% do tendão rompido.

Então tá.

Viemos agora de tarde

 

 

 

TERÇA FEIRA, 4 de março de 1997, 17.30h, tempo chuvoso.

Conforme previsto, hoje dei alta do hospital, após a cirurgia para recomposição do tendão de Aquiles.

A coisa toda, supostamente singela, não é bem assim.

Passei maus pedaços e o desconforto irá durar mais uns dois meses: estou com uma cobertura de gesso que começa em cima na coxa e vai até à sola do pé.

O que significa que meus movimentos estão muito difíceis porque o gesso pesa uma tonelada, sou ruim de muletas

Ontem interrompi este registro pôr causa da chegada do Bagé; estamos pois na quarta feira, de manhã, o tempo é bom e já arranjei um outro meio de transporte mais favorável.

Estou utilizando a cadeira de rodinhas que tenho aqui no gabinete. Não é exatamente uma dita de rodas mas quebra o galho.

Porque muletas,com todo o peso do gesso, só para deslocamentos muito curtos.

Quando a Heloisa  comprou as muletas, foi informada que as convencionais(?) somente aguentam 100 quilos, o que significa que, sem gesso, ultrapasso a garantia em 12 quilos e, com o gesso, uns trezentos!

O pior desta situação é que todo o mundo tem uma história semelhante para contar com o epílogo pouco construtivo de que sairam-se muito bem, que é normal uma pessoa usar muletas e que, enfim , o único cagão sou eu.

Então tá.

Também fico sabendo, pêlos narradores, que o engessado deve fazer tudo certinho porque senão dá galho.

Assim que irei me conformar em passar um mês e meio de molho o que, pelo menos, é uma experiência nova.

Quem realmente tem experiência de uma engessação assim, é o Carlos o que me leva a observar o que ele sugere; os mais participantes técnicos – Bolão e Patricia –  acham que devo caminhar com muletas, correr na Redenção, fazer trabalhos de jardinagem etc. etc. e tal, observando o velho princípio de que pimenta no olho dos outros é colirio.

O Bolão está convicto de que eu, antes de encerrar a recuperação, vou ter uma embolia pulmonar assim que já está preparado para fazer a necessária sangria.

A Patricia até agora ainda não entendeu como eu sobrevivi à cirurgia! Um verdadeiro milagre.

Falta a Graça cuja reação vai ser, tenho certeza:

– Não dá bola Mourão: se este gesso ter encher muito, arranca fora.

Cada um com seu cada qual.

Bem.

Devo registrar que o atendimento no São Lucas foi excelente e que graças à influência do Dr. Barrios, tudo correu maravilhosamente bem: o Monik não quis cobrar argumentando que o Carlos tratou um ano do pai dele e idem não cobrou nada; como o anestesista é filho do Monik, adotou o mesmo princípio.

Não deu para contra-argumentar porque as razões deles eram boas e foram apresentadas com uma carga de emoção muito grande.

Como se vê, recebemos pôr tabela, a competência, generosidade e  gentilezas com que o

 

 

Carlos trata seus colegas e pacientes.

De qualquer forma, vou verificar quanto o Bradesco paga aos médicos e vou transferir os valores para o Monik e filho.

 

Quinta-feira, 6 de março de 1997, 14:52h, tempo muito bom.

 

Imaginei que, com a história da invalidez passageira, poderia render muito mais no que concerne a registros, trabalhos escritos etc. mas, estou chegando à conclusão que as coisas não irão mudar muito.

Já estou melhorando com as muletas e penso que breve poderei navegar pela casa com relativo conforto.

A Jucélia foi acionada para liberar, junto ao Bradesco, os valores para pagar os honorários do Monik e equipe.

Esperemos que não sejam valores muito ridículos.

Marilise me mandou um monte de Efederm que é um pó excelente para ser usado como talco: eu estava com a pele das costas entrando em estado de deterioração e foi passar Efederm e deu prá bolinha da bolinhas! ( Assim não dá!).

Acontece que o Ingo tem umas fórmulas alemãs antigas, do tempo do III Reich, que funcionam maravilhosamente, As licenças originais dos produtos levam no cabeçalho a figura da águia pousada no globo terrestre e cobrindo este, a cruz suástica.

Vou ligar para o Alemão e informá-lo desta virtude do Efederm: é ótimo para ser usado nas pessoas que ficam muito tempo deitadas.

Aqui pôr casa, tudo bem: a Heloisa ganhou um canário muito bonito da Alba e a gata teve cria.

Obviamente que estes dois fatos não se somam mas se a gata se bobear, desta vez ela vai junto com os filhotes, caçar passarinhos no Walhala.

 

07/03/97 14:35:11, tempo ótimo.

 

Como se depreende, estou utilizando o próprio Word para colocar o grupo data – hora o que modifica a forma deste registro mas, confere-lhe mais certeza, disse-o bem?

No mais, a vidinha segue com o trambolho do gesso e não se oferecem muitas opções a um cidadão que leva meia hora para deslocar-se metros com as muletas; a verdade é que já estou melhorando no uso das referidas.

Ë sempre assim: a gente resiste às novidades tecnológicas e muletas, afinal sequer têm 20.000 anos de uso…

Sobre o paleontologismo dos métodos usados pêlos traumatologistas falei com Carlos que concordou comigo.

Nos tempos do Projeto Genoma o personagem ter de usar muletas babilônicas é meio desanimante.

Muito interessante em casos como o meu, é a opinião dos circunstantes: uns afirmam que é tudo muito fácil e que chega a ser indício de mau caráter  a vítima achar ruim; outros alertam que a recuperação de tendão é dificílima e qualquer bobeada, vai tudo para o espaço!

Os primeiros citam o caso do saci-pererê, de cirurgiões que operam tórax de muletas e pôr aí empós.

Os segundos contam histórias relativas a amigos e antepassados que nunca mais puderam dançar balé.

A todos os meus sinceros agradecimentos e fim.

My way.

Hoje o Rio foi desclassificado para ser sede das Olimpiadas; acho que enquanto não despoluirem a Baia da Guanabara não dá mesmo.

Uma vez andei com o Banda pela baia, depois de uma chuva forte e a sujeira era tanta que dificultava até o deslocamento da lancha. Era um espetáculo deprimente.

Até hoje não entendi como pretendem despoluir a baia porque o fator principal da sujeirada, são aquelas populações que moram na beira do mar, nas ilhas, no Fundão, São Gonçalo, Gragoatá e adjacências.

É um bando de maloqueiros que despejam seus lixos e detritos na água.

Uma volta e barco pelo fundo da baia faz qualquer um desanimar: é um monte de lixo, óleo, lodo fedorento, um verdadeiro horror.

Penso que é um problema cultural e que não tem solução.

No inicio do século XIX, metade dos habitantes do Rio eram escravos e a outra metade, portugas.

Ainda hoje, uns e outros, africanos e cutrucos,  mesmo em seu habitat natural, são exemplos de relaxamento e porquice o que nos deixa avaliar o comportamento dos ditos em terra alheia.

Gostaria de tecer maiores considerações mas, certamente, iria ser tachado de racista o que parece ser verdade.

Devo, no entanto, narrar dois fatos que aconteceram comigo e Heloisa, em Ipanema.

Estávamos no Hotel Everest e resolvemos ir até à praia tomar um banho porque o mar ali é realmente muito bonito.

Estava indo tudo muito bem quando descobrimos que a areia era uma mina de vermes brancos, miudinhos!

Depositados pelas fezes dos urubus que ali pervagam em grande número.

Estamos falando de Ipanema, aquele da Garota, do Tom e do Vinicius.

Numa outra volta, do mesmo Hotel Everest, observávamos a praia para avaliar se valia a pena ir tomar um banho.

Há um emissário que remete o esgoto de Ipanema para longe, no mar.

O emissário havia se rompido e percebia-se nítidamente  mancha amarela do derrame que chegava até à praia.

‘Pois este festival de vermes e merda – combinação brabíssima, não despertava a ira dos circunstantes e muito menos qualquer iniciativa deles. Tanto que nunca ouvíramos falar daquela situação constrangedora.

Permaneciam todos tomando chopinho no Barril 1700.

E, querem que acreditem que serão capazes de organizar uma Olimpíada?

Tais brincando!

 

 

Sábado, 8 de março de 1997, 17:04, verão voltou.

Estamos com 32ºC, um belíssimo dia de verão: acabaram de telefonar o Joaquim e a Isinha dizendo que no Imbé está uma loucura, o mar azul e tão cheio de peixes que chegam a pular na areia!

O que significa que as tainhas chegaram e estão caçando sardinhas que, acossadas, pulam na areia.

E eu aqui, ancorado no gesso.

Vou pensar no causo.

Como já comentei, de vez em quando umas moçoilas escrevem uns artigos na Zero Hora que são de desanimar: tivemos o caso do Borges, depois o Julio de Castilhos freqüentando batuques a conselho do Osvaldo Aranha, depois a Coluna Prestes reavaliada e hoje para coroar, uma feminina (ROSANE TREMEA) escreveu o seguinte, verbis:

– Barbara nasceu em 1984, o mesmo ano em que as brasileiras tiveram uma das maiores conquistas deste   século. Um novo Código Civil colocou pela primeira vez em igualdade homens e mulheres. Antes, quem nascesse do sexo feminino, era comparado aos silvícolas e aos menores de 21 anos.

Em primeiro lugar, o nosso Código Civil continua sendo o de 1916 e em segundo lugar, em nenhum regramento dele se declara que a mulher é relativamente capaz.

É tanta asneira que nem vale a pena perder tempo e comentar; espero que o pessoal da Zero Hora se dê conta da barbaridade e publique algum tipo de explicação.

Jamais seremos capazes de avaliar o deserviço que os cursos de Literatura e Comunicação da PUC prestam à cultura local; principalmente pela participação maciça de femininas.

A Liege veio de Pelotas com os guris que, neste momento estão aqui em casa fazendo um lanche.

Também está o Pingo que não foi para a praia.

O restante da família Tergolina está pôr lá, ajeitando a casa nova e daí o telefonema meteorológico da Isinha, repetindo em DDD o velho refrão da Heloisa quando chega da praia e me encontra na piscina: “O melhor dia do veraneio, não sabes o que perdestes“.

Hoje de manhã transmitiram de Capão uns flashes do Garota – Verão e o que eu pude ver foi o costumeiro mar amarelão.

Só se mudou na virada do meio dia.

Agora que o tempo está bom, lá isto está.

Para amanhã, a Patrícia está planejando um grandioso churrasco sendo o Bolão o assador.

Teremos, portanto auto-lovações e churrasco ruim.

As usual.

O Grêmio perdeu ontem para um timeco do Peru, como previsto.

Os caras estavam cheios de grau, um baita salto – alto e aí o resultado é previsível.

Na verdade o juiz ajudou os perus mas os caras eram tão ruins que, mesmo assim seria difícil perder.

 

 

 

 

 

Segunda-feira, 10 de março de 1997, 11:05, verão.

Estes registros estão um tanto quanto desconexos porque eu começo e não chego ao fim; acontece que as pessoas aparecem, interrompo e geralmente não volto.

Ontem foi um dia agitado, Bolão fez churrasco patrocinado pela Patrícia e vieram bastante pessoas, inclusive a turma da Liege e o Paulo Martins; Paulo e Virginia não vieram, Mas o Henrique e a Helena sim.

No que me concerne, vou indo sem maiores novidades mas não me parece certo que uma pessoa fique engessada tanto tempo sem apanhar sol naquelas partes que sofreram cirurgia.

Ainda mais que o gesso fica atritando: decerto, não demora muito, a pele começa a enfraquecer e apresentar ulcerações.

Tomara que não mas me parece que esta é a marcha lógica dos acontecimentos.

Esperemos que o Monik saiba muito bem o que faz.

O Pinho e o Rolla apareceram ontem para papear; o Pinho está com medo que o juiz declare a sua falência e, na verdade, o magistrado, diante da lei, não tem outra opção.

Disse ao Pinho que, na situação em que ele está, a falência até que vem tranquilizar as coisas: entrega a chave para o síndico e deu.

Claro que sobram uns penduricos mas, pelo menos, acabam-se as agonias das execuções, greves, ações trabalhistas etc.

Pena que isto está para acontecer justamente quando os da Alemanha estão para chegar.

Diz o Pinho que a CUT está muito atuante na fábrica o que me faz pensar que talvez pretendam assumir o controle e tocar o negócio sob a gerência dos empregados.

Não é uma má solução.

Acontece que, tendo acesso à contabilidade, os CUT vão saber o que saiu do caixa 1 para o caixa 2 e aí a coisa complica.

Penso que o Pinho perde a casa de Torres.

Vamos ver mais na frente mas parece-me que, juridicamente, a falência seja ineludível a não ser que o Pinho consiga vender a Mernak nesta semana, o que é uma hipótese. Meio desesperada mas é.

Bem.

Está fazendo um calor brabo e a praia deve estar ótima, teria sido o março ideal para ficar pôr lá.

Como já disse e segundo informações, sábado o mar estava azul, quente e pululando de peixes.

Já ontem de tarde, quem viu o Rainha das Piscinas afirmava que rugia um nordestão!!!

Considerados os anos de vivência que temos, voto pelo nordestão.

Hoje a Isinha dará as últimas porque passou o fim de semana lá.

Mas, admitamos, esta é uma família que tem um posicionamento especial diante de informações sobre a praia: todo o mundo duvida de todos no que for dito a respeito do mar.

Se alguém declara que estamos diante do melhor banho da temporada, imediatamente os circunstantes riem e remetem a afirmação para um evidente e permanente exagero; se o mar é declarado como sujo e gelado, contrapõe-se que não é bem assim que a sujeira são algas saudáveis e que a tempertura está ótima para um estimulante choque térmico.

E, pôr aí empós.  Nunca tivemos unanimidade  ou sequer maioria a respeito do mar: cada um faz questão de manter, apresentar e defender sua própria subjetividade. Enfáticamente.

Até as crianças já entram no bolo: os maiores são solicitados a darem sua opinião que, sintomáticamnte, já tende a ser própria e diferente.

O pé de araçä  é testemunha dos debates que pôr ali se travam, na volta da praia, principalmente entre os que lá foram e os que ficaram em casa. Agora também, enriquecidos com a participação ao vivo, do Antônio, Denise e Carol.

Isto no que concerne ao Imbé porque temos também as infindáveis análises e comparações com Santa Catarina.

Jamais chegaremos ao consenso principalmente porque as convicções se alteram e muito de acôrdo com os eventos mais recentes.

Houve, ainda, a época das praias de lagoa, particularmente São Lourenço mas, ao que tudo indica, este capítulo está encerrado pôr influência de coliformes fecais.

Penso que este é um tema que permanecerá vivo pôr muitas gerações.

Posso antever o neto do Pingo declarando:

– Pô vô, tu não foi a praia. Nem sabes o que perdestes, o melhor banho do verão.

Imediatamente um sem – pulo do neto do Angelo:

– Conversa! Não perdestes nada: o mar está uma droga.

Isto aí.

 

Terça-feira, 11 de março de 1997, 17:30, toró se armando, calor.

 

Hoje passei o dia andando para lá e para cá, sem render nada o que, provavelmente será o quotidiano até fins de março; penso que estou me recuperando muito bem embora tudo esteja debaixo do gesso.

Telefonou o Mambrini e me contou que o Lins fez uma peixada muito boa em casa de uns amigos deles.

Já combinamos fazer algo depois que eu me livrar do gesso.

Amanhã talvez eu peça para alguém me comprar filé de abrótea no Mercado que, pôr sinal, será inaugurado dia 26 com grande badalações, o que acho válido.

A Jucélia me passou os valores com que a Bradesco paga os médicos de acôrdo com o meu plano e até achei razoáveis. São:

– Anestesista: R$ 693,29.

– Cirurgião: R$ 866,50.

– 1º Auxiliar: R$ 259,95

– Instrumentador: R$ 86,65.

Transmiti esses valores ao Carlos ainda ontem, pedindo os necessários recibos ao Monik.

Ontem foi o aniversário da Claudia Pfeifer e telefonei duas vezes mas não consegui falar com ela.

O horário de trabalho dela é muito ruim e parece-me que ela somente chega em casa lá pela meia noite.

Isinha acabou de sair daqui; comentou que a URGS está uma bagunça e que o Pingo levanta às seis e meia para a primeira aula e que os professores simplesmente não aparecem.

Que talvez a PUC tivesse sido melhor.

Não me parece: penso até que coisas assim são elementos formativos porque as pessoas vêm o que está errado e procurarão corrigir. Saberão também que os professores não são as vítimas que alegam ser e até ganham muito bem pelo que fazem.

Um professor universitário, para dar quatro horas de aulas semanais, ganha R$1.800,00.

E, os guaipecas nem essas dão.

O Partido Comunista russo tinha uma nomenklatura de Partido que dispunha de benesses nunca acessíveis ao povo em geral.

Aqui no Brasil, a nomenklatura de Partido, foi substituída pela dita de empresas estatais e mesmo de governo.

Agora mesmo, enquanto se discute a venda da Vale do Rio Doce, foram publicados números em que se vê o seguinte: a Vale retornou ao seu maior acionista, o Brasil, um valor X enquanto que à fundação de seus funcionários recebeu  4 X; isto em dinheiro porque em benesses, fringe bennefits é bom nem pesquisar.

Idem e muito pior aconteceu com todas as estatais de porte ou seja, criou-se uma nomenklatura que mama no Brasil e que, em consequência não quer largar o filé de jeito nenhum o que também vale para as estatais de ambito estadual, tipo CEEE.

O dia em que abrirem a caixa preta das estatatais, vai ser um escândalo tão grande que o PC Farias será condecorado post – mortem.

Enquanto isto, os Brizola e os Lula da vida ficam falando asneiras contra as privatizações.

Muito difícil de resolver, pôr ser direito adquirido, vai ser o problema das aposentadorias régias que os Estados pagam. Isto ainda irá prevalecer pôr, no mínimo, duas gerações devido a um princípio constitucional de 988 que manda pagar às herdeiras dos funcionários exatamente o mesmo valor que eles receberiam se estivessem vivos e trabalhando.

Em 988 repetimos um erro que todo o mundo já havia detectado e que acabou com uma nação próspera: o Uruguay.

Eles também fizeram uma constituição cidadã que atribuiu tantos benefícios aos funcionários públicos que nunca mais o Uruguay teve um tostão para investir em infra – estrutura produtiva.

Todo o mundo sabia disto porque foi muito comentado pôr todos os juristas de todos os países.

Então tá.

Estamos mudando tais regras mas, não é fácil pôr causa do direito adquirido.

O Judiciário andou facilitando as coisas para o Executivo mas, agora, resolveu chutar o páu da barraca e acolher tudo quanto é pretensão de direito adquirido.

Na verdade o atual Supremo tem muita gente nomeada pelo Collor que não perdoou o Impeachment.

Existe lá um primo do Collor que simplesmente concede qualquer liminar contra o Executivo que bata em sua mesa: pôr mais esdrúxula que seja, ele concede com a maior cara de pau.

Faz lembrar a Suprema Corte dos USA no tempo do Roosevelt; como era toda de conservadores, ele teve que substituir a maioria dos juizes para conseguir implantar a doutrina do welfare.

Foi uma briga porque quem aprova os juizes da Suprema Corte é o Congresso e os Republicanos não estavam afim com o welfare.

Para que não sabe, a doutrina do Roosevelt pregava que a democracia só existe realmente se os cidadão puderem ter um mínimo de bem- estar ou seja, para haver democracia é preciso um mínimo de bens materias de que todos os cidadãos possam usufruir.

Para quem não sabe, esta era a doutrina que norteou a Revolução de 64, oficialmente exposta pelo Castelo Branco, adotada pela ESG e cuja implantação foi começada pelo Eugenio Gudim e pelo Roberto Campos.

Pôr isto a esquerda os chamava de entreguistas, americanóides etc. A esquerda queria que fossem implantados os princípios econômicos em uso na Russia, impostos pôr Stalin.

Tais brincando.

Vejam como as coisas são antigas e às vezes reaparecem como sendo grandes novidades.

O Fujimori foi muito aplaudido quando declarou que a democracia como a dos USA, não pode funcionar na América do Sul devido, inter coetera, à pobreza e desinformação do povo.

Ou seja, o Fuji simplesmente repetiu uma afirmação que o Roosevelt fez em relação aos USA na década de trinta, logo depois da Grande Depressão.

In illa tempora os americanos estavam muito pior do que nós hoje.

Somente melhoraram com a guerra o que aliás é uma história antiga; as guerras sempre foram um excelente meio de acertar as economias.

Ontem esteve aqui o Napoleão e me trouxe um livro de editoriais escritos na década de setenta pôr um cidadão que escrevia para a Zero Hora e que é pai do L da LPM Editora.

Achei uma droga mas como o Napoleão anda atrás de editor, atenuarei a crítica.

O título da coletânea e o prefácio fazem supor que o pinta meteu o pau nos governos militares numa época em que era indigesto fazê-lo.

Aí você  lê os artigos e constata que o cara era um puxa-saco deslavado, inclusive do Médici a quem atribuia  o direito de escalar o time da seleção brasileira na Copa de 70.

Me machão, you Jane.

Então tá.

 

Quarta-feira, 12 de março de 1997, 19:07, calorão.

 

Hoje transferi  “Osvaldinho “do CC3 para o Word, organizei-o e pretendo terminá-lo até ao fim do mês.

Pelo menos já tenho um roteiro para chegar ao fim, agora é só mão de obra.

Um quarto do livro já está escrito.

Está um calor danado o que complica a minha situação com o gesso mas, dá para aguentar.

Daqui a pouco o Gremio joga contra o Cruzeiro de Minas e penso que não irá alem de um empate; o Cruzeiro é um dos melhores times do Brasil e simplesmente não pode perder porque estaria fora da Libertadores.

Acontece que ele perdeu duas partidas no Perú.

E o Gremio está desfalcado; com sorte, dá empate 1 x 1.

Veremos.

Hoje não apareceu ninguém pôr aqui; a Heloisa não foi ao chá tradicional para que eu não ficasse só.

 

 

Sexta-feira, 14 de março de 1997, 17:08, tempo muito bom.

Ontem, não compareci: sempre achei que, durante o estaleiro, iria produzir muito mas, está acontecendo o contrário. A cada dia fico mais preguiçoso, dedicando-me ao que se costuma chamar de lazer.

Pode ser que quando terminar a novela do gesso, eu tenha apreendido alguma coisa além de trabalhar.

Esteve o Pinho hoje cedo: O juiz finalmente decretou sua falência.

É bom porque assim ele também entra em repouso forçado, acaba com o vai não vai.

O pior, conta o Pinho, é a família que fica enchendo o saco.

Acredito mas não devem esquecer que todos são partes nesta novela: o padrão de vida que levaram e o patrimônio que acumularam só poderia dar no que deu. Se, conforma se desenha, for a CUT quem assumir o comando pôr lá, o Pinho irá se incomodar e muito porque eles têm um dossiê de tudo o que o Pinho adquiriu depois que a Mernak fazia água e muita.

Velhos temas, conhecidos enredos.

Esteve também a Maria Luiza do Lopes que está tão assoberbada que pensa em vender a sua parte nos bens que ela e o irmão têm.

Ela tem tantas coisas para cuidar tanto no âmbito negocial como naquele familiar – mãe viuva e doente, filha separada, três fazendas etc. que quer atirar  toalha.

Seria mais razoável arrendar a fazenda ou tentar um bom gerente.

Devem roubar muito nas fazendas dela, aquele povo de Vacaria não vale nada, Vacaria sempre foi refugio de bandidos daqui e de Santa Catarina e os costumes permanecem.

Heloisa resolveu, em conjunto com a Patrícia, festejar meu aniversário com uma janta amanhã à noite.

Isinha vai para o Imbé e Bolão para Pelotas. Ambos voltam domingo à noite o que significa festa sábado e domingo.

Heloisa hoje foi comprar um engradado de cerveja, fato contra o qual há muito eu me bato. Penso que o povo que vem aos churrascos de domingo deveria trazer a cerveja porque carregar engradados é mais apropriado para pessoas mais jovens.

Ainda irei instituir esta prática no quotidiano familiar.

Dr. Barrios encontra-se no México, devendo retornar domingo. Após o que, ao que sei, deve ir para os USA de onde me trará sapatos Dr. Scholl a serem comprados por US$ 18,00 no Scnhuks(?).

Patricia está preocupada com umas dores que o Pablo sente na articulação da coxa direita.

Funciona aqui o velho princípio da família com muito médico: se O Pablo fosse um guri comum, ninguém iria ligar e logo ele ficaria bem. Mas como é filho de médicos, vão fazer duzentos exames e chegar à mesma conclusão.

O Grêmio perdeu para o Cruzeiro e começa a desmoronar o rolo compressor do Evaristo; o que aconteceu foi que, no início do campeonato  maioria dos times estão desarticulados e o Gremio continuava inteiro. Aí deu “fumadas“ homéricas e o povo achou que o Evaristo tinha transformado aquele bando de cabeçasde bagres em violinistas. Agora tudo volta à normalidade e os gremistas já reclamam a volta do estilo Felipão.

 

 

 

Sábado, 15 de março de 1997, 19:32h, tempo bom.

Ontem, no meio do registro, chegaram os guris da Patrícia e pediram para jogar Doom (?) assim que interrompi e estou voltando agora.

Temos uma janta hoje, com a presença de familiares, como se costuma dizer em textos de jornal.

Daqui a pouco porque já são 19:30 e a moçada costuma chegar às oito.

Como não estou capacitado para circular, pretendo ficar sentado enquanto a Heloisa – como de costume – atende às partes.

Amanhã espera-se frequência rarefeita embora possa haver surpresas.

O dia foi normal com pouco movimento: afinal hoje é sábado e as pessoas têm mais o que fazer do que visitas a encalhados.

Ontem o Clintom rompeu os ligamentos do joelho e vai ficar engessado pôr umas semanas; também o presidente de Israel se estuporou do fêmur e vai para o gesso.

Estou em boa companhia,

Li também a história de um medico de Machadinho que mesmo engessado continuou operando e atendendo partos.

Parece que o único molenga da comunidade do gesso sou eu mas, mesmo exemplos tão construtivos não irão fazer com que eu resolva jogar futebol de muletas.

Vou ficar na minha.

Mas, já vi que quarta feira, quando irei na PUC para que o Monik avalie a situação, não irá acontecer nada e continuarei engessado como até agora.

Esta novela, em tudo correndo bem, vai durar até fins de abril.

O Alvinho, que deve fazer uma operação de femur mas está só urubuservando, vem aqui hoje, segundo consta. Minha opinião será contrária porque vi o que aconteceu com a Vera do Lins.

Ela teve um mal semelhante e operou: não tem mais dor mas, ficou manca.

Parece que esta é a opção, salvo avanços recentes da medicina o que me parece não houve.

Acabei de falar com o Alemão Jorge que chegou hoje do Alemanho; ele pensou que eu era o Bhorer um cupincha daqui que dirige o Zoo onde o Jorge irá operar cachorros, de catarata.

O diálogo do Jorge comigo, perguntando pelos meus clientes cachorros, foi cômico.

Diz ele que trouxe do Alemanho os equipamentos mais modernos que existem no mundo para operar cataratas os quais custam uma fortuna.

Esperemos que faça bom uso deles e fature uma graninha: a família está precisando.

Ainda tem muito pau pela frente: o Nico e o Pingo estão numa pior, daquelas que não tem escapatória, acaba em cana como já aconteceu com o Horst Wolk, aquele alemão de Gramado que fabrica sapatos de crianças (Ortopé) e que foi até Secretário de Estado.

O caso é o mesmo, apropriação indébita de valores de segurados do INPS. O pior é que o Pinho é réu confesso.

Acabaram de chegar os guris que querem jogar Doom II, assim que encerro aqui.

 

 

 

 

 

Domingo, 16 de março de 1997, 12:20h, tempo ótimo.

Como se depreende, hoje estou completando 68 anos de bons serviços prestados à comunidade em geral.

Fizemos uma janta discreta ontem que estava bastante boa. Ganhei uma camisa da Virginia, um pijama da Heloisa e um cacho de uvas da Alda. A Patrícia ficou devendo porque não conseguiu entrar no Shopping tanto era o movimento.

Estiveram o Alvinho e a Maria Tereza. O Alvinho foi o dono do papo com assuntos referentes ao seu sitio de Santo Antônio; até o Paulo Martins teve que dar uma de ouvinte.

Hoje é o dia dos telefonemas e talvez algumas visitas que espero sejam poucas.

O Dr. Barrios chega agora ao meio dia e decerto irá aparecer. Vem do México via Miami onde foi visitar Ricki e Clara.

Ontem telefonou o Bolão informando que o motor da caminhonete está fundido; motor Chevrolet dificilmente funde e é muito enganador porque trabalha a frio.

Espero que os gênios mecânicos de Pelotas tenham diagnosticado bem.

O problema são as despesas decorrentes.

Helena e Clara vieram almoçar, faturar o que sobrou  e uma sopa de aniolini que a Virginia trouxe ontem para as bisavós quem, afinal, comeram de tudo menos a sopa.

A Alda declarou, ao despedir-se, que não comera nada porque esquecera a dentadura inferior; na verdade pude observar que ela comeu e bem.

Pas de neuf.

O Paulo refugou o prato principal, um fricassé muito bom, alegando que estava uma droga.

Surpreendente o Paulo refugar comida!

Os termos não.

Os restantes, com destaque para Maria Tereza, gostaram de tudo.

Bem.

Está na mesa e, considerando os diversos consideranda, acho que pôr hoje é só.

 

Segunda-feira, 17 de março de 1997, 16:22h. tempo bom.

 

Na verdade, as coisas ontem foram tranquilas mas de modo a que sempre estivessem visitas; também o povo que normalmente o faz, telefonou. Particularmente os do Rio, a família Pfeifer ( Lucia, A Carlos e Luciana), o Banda e os Rembold.

A Graça esteve um tempão conversando e foi muito agradável. A minha expectativa de que ela sugerisse a diminuição do gesso, não se confirmou.

Hay que aguantar.

Hoje o dia está normal estou embromando para começar um trabalho de estatística com cem resultados da Super Sena mesmo sabendo que, matematicamente não há possibilidades de melhorar prognósticos de modo relevante, baseado em frequências.

 

Quarta-feira, 19 de março de 1997, 18:10h, tempo bom, quente.

 

Hoje foi o dia de ir ao hospital para dar uma geral no gesso; havia uma leve esperança de que o botão poderia ser transformado em botinha mas, não foi o caso, o Monik é implacável, não se entrega: simplesmente tirou os pontos e tacou uma bota igual a anterior e mais pesada porque molhada.

Apud illi, está tudo bem. Difere fundamentalmente dos princípios  ortopédicos da Patrícia que manda caminhar, cortar grama, jogar futebol etc. O Monik recomenda calma e quanto menos mexidas, melhor.

Quem me levou no hospital foi o João – a Heloisa tinha dentista na mesma hora  – e, no final, foi bom porque a Heloisa não iria aguentar ficar me empurrando em cadeira de rodas lá pelo hospital, particularmente na última cadeira cujo pneu estava furado…

Mais três semanas de gessão, um novo começo. A folia parcial termina em 09 de abril e devo ficar sem gesso em 30 de abril.

Sem nenhum juizo de mérito, observei que a curriola do Monik é israelita, sem exceção.

Interessante, a Pontifícia Universidade Católica abriga em seu seio (?) uma enorme legião de israelitas.

Se estivéssemos na Idade Média, e mesmo antes, possivelmente os referidos estariam em posição bem menos cômoda…

Sinal dos tempos.

Não há como negar que os judeus têm tradição médica desde os tempos em que a Pérsia dominava o mundo mediterrâneo.

E, é também interessante registrar que os cristãos que frequentassem as aulas da escola de medicina da Pérsia onde pontificava um expoente cujo nome não lembro agora – mas vou lembrar – eram sumariamente  queimados ou enforcados

Maimônides era o nome do médico judeu persa quem, digamos assim, dirigia a faculdade de Medicina em Suza, se não me engano; pode ser Persópolis também. Lá pelo século V AC.

Afinal, estou lidando com conhecimentos inúteis e o rigorismo não é tão necessário.

Isinha acaba de levar para a Viviane as carteirinhas do Gigantinho; fica o registro porque nunca se sabe onde estão as referidas que, basicamente, só são usadas pela Viviane e pela Marília.

A Marília pede para a mãe dela, a Francisca, quando o Roberto Carlos aparece aqui no RGS.

Referida progenitora é vidrada no Roberto Carlos.

A Viviane usa em muitíssimos shows decerto para levar a Manoela que costuma acontecer nos showbizes que estiverem na crista da onda.

Admito estar errado – e tomara – mas penso, pelas aparências, que o povo de lá acostumou muito mal a Manoela.

Pode parecer cruel mas vejo o futuro dos Pinho – exceção da Mônica – como um alegre barco de pique nique em que as pessoas riem, cantam e tomam champanha enquanto vão direto para as cataratas do Niagara.

E, são muito poucas as possibilidades de soluções salvadoras.

Esperemos, mesmo assim, que as coisas fluam de modo a que o barco consiga chegar em porto seguro.

Milico é gozado: de tanto viver na fantasia de guerras de brinquedo, administração de brinquedo, elogios vãos e gongóricos, honrarias também ersatz, o povo V.O perde a noção de realidade e acredita que no fim tudo vai dar certo, como nas manobras.

Às vezes não dá.

Creio que já disse isso.

Bem.

Acaba de chegar o Pingo que está fazendo base aqui em casa nas suas idas e vindas para a faculdade, conforme aliás seria previsível, considerando que estamos em posição central em relação ao campus da UFRGS e os estabelecimentos da Redenção onde ainda acontecem muitas aulas.

Ontem vimos a fita do Mastroiani que a Isinha me deu de aniversário: é um filme muito interessante com um final que deixa a gente sem saber se tudo são mentiras de um velho garçon ou se realmente as coisas aconteceram.

Na minha interpretação, o personagem do Mastroiani era um grande mentiroso e toda a história que ele conta (e que em última análise é o filme), é uma grande mentira, uma invenção romântica de um pobre garçon cuja vida é de um quotidiano deprimente.

O trabalho dele é soberbo.

Como já disse, eu tinha grandes planos para este tempo de estaleiro mas, até agora não fiz nada; farei o possível para nas próximas três semanas terminar o que já comecei, Osvaldinho e  Magia.

Sem neuroses, se deu, deu; se não deu, tudo bem.

Como seria desejável em todas as coisas que fazemos.

Heloisa comprou um bacalhau muito bonito no Zaffari e pôr um preço bastante bom para esta época.

É claro que daqui a duas semanas, já na Páscoa, estará mais barato.

Ando com vontade de comer um bacalhau comme il faut.

Como estou me cuidando na quantidade de comida, ando com vontade de comer qualquer coisa comme il faut ou comme il faut pas.

Mas, até sair do estaleiro, comerei o suficiente para não engordar e se possível, até emagrecer um pouco.

Pôr enquanto, tudo corre como planejado.

Bem, a ceia está na mesa, café com leite.

 

Sexta-feira, 21 de março de 1997, 17:46h. tempo bom.

 

Hoje é o aniversário da Isinha que irá comemorá-lo amanhã.

Bolão já seguiu para Pelotas.

Terminei de ler a biografia do Mauá; o livro deveria chamar-se “O Conviva Recusado “mas, infelizmente já existe este título.

Para quem quer entender o Brasil, o livro é fundamental; um aspecto que talvez não seja muito percebido é referente ao Rio Grande do Sul.

Evidentemente, desde a sua formação, o Rio Grande do Sul não tem nada a ver com o resto do Brasil.

Voltemos ao Mauá.

É a história de um indivíduo excepcionalmente treinado em comércio e finanças, com formação libera da escola britânica e que desenvolveu seus imensos trabalhos em um Império que não aceitava a emergência de plebeu e pour cause, sempre o repeliu. A aristocracia brasileira (? ) fundada nos traficantes de escravos e nas fazendas de café e açucar, considerava o trabalho um opróbrio e o comércio uma atividade vil; como Mauá florescia através desses dois pecados, o povo da corte fazia tudo para empurrá-lo para baixo.

Tudo acontecia no Rio de Janeiro onde o que valia eram os títulos de nobreza, o número de escravos e a capacidade de viver bem sem trabalhar.

Como ainda hoje!

Se o Brasil oitocentista tivesse seguido as iniciativas de Mauá, hoje seria um país do chamado primeiro mundo.

Até mesmo D. Pedro II, sempre que pode e lhe foi conveniente, foi arbitrário e prejudicial a Mauá.

Pôr ressaltar as duas figuras do Império que o apoiaram e que dão testemunho histórico de quem ele era: Caxias e o Barão do Rio Branco.

Um personagem que aparece no livro como um falastrão filho da puta é o Silveira Martins quem,aqui entre nós, é considerado um expoente pôr ter sido o mentor federalista ( maragato) da Revolução de 93.

Diante dos registros – que eu desconhecia – e analisando a sua participação em 93, dá para concluir que o pátria era realmente um safado.

Não esquecer que ele comandava a revolução do exterior: enquanto os seus correligionários eram degolados pôr aqui, ele sempre esteve no bem bom.

Não esquecer também que ele fez o seu debut político como liberal e acabou como conservador.

Interessante observar que, nas eleições de !863 (?), elegeram-se sete deputados liberais em todo o Brasil e quatro eram do Rio Grande; entre eles o estreante Silveira Martins.

Como se depreende, a mania de votar na oposição já é antiga nos pagos.

Ao que tudo indica, a história de 93, que endeusa Silveira Martins e inferniza o Julio de Castilhos, deve ser reescrita.

Esperemos que tal tarefa não acabe sendo atribuída ao Curso de História da PUC.

Em suma, a biografia do Mauá é fundamental para quem saber algo mais da história do Brasil e também do Uruguai.

Penso que se o Uruguai existe como país independente, isto se deve a Mauá.

Consta que pôr lá, ainda hoje, a sua memória é venerada. Duvido que no Uruguai se venere algum brasileiro.

O Carlos, perguntado pôr mim, não tinha a menor idéia de quer seria Mauá.

En passant, o Carlos voltou muito impressionado de Miami, elogiando a qualidade de vida dos colegas que vivem lá.

O Zé, que conhecemos de longa data e que idem é oncologista, está morando numa ilha, a cinco minutos do hospital onde trabalha.

Realmente, morar numa ilha em Miami Beach, a cinco minutos do local de trabalho, deve ser algo muito agradável.

Pelo menos até ao próximo huracán.

Acho que o Carlos, quem sempre defendeu a hipótese Brasil contra as convicções da Patrícia de que tudo é melhor nos USA, está meio enfraquecido em sua posição.

Outros indícios me levam a crer que na possibilidade de uma mudança.

O tempo dirá.

Seguidamente faço previsões de diásporas o que Freud explicaria ensinando que, na verdade, quem quer diasporizar, sou eu !

Árvore velha não se muda, eis o que Freud não sabia!

O bom é a gente sair, dar uma volta grande e voltar para as paisagens conhecidas.

Gosto de ir para as estranjas mas o que mais gosto é voltar.

Bem.

Afinal o Mercado foi inaugurado ontem, dia 20 de março de 1997; artistas locais se apresentaram o que é inadmissível.

Hoje passou na TV uma mostra de peça teatral escrita e representada pôr locais.

Como sempre é algo nefando.

A curriola que escreve, a que representa, a que aplaude e a que faz a crítica, é constituida pelas mesmas pessoas, sendo que alguns são colaterais e outros afins.

Eles escrevem uns textos deploráveis onde misturam Garcia Marques com Nelson Rodrigues, fantasiam-se com roupas estranhíssimas, pintam-se com alvaiades e vão para o palco dar gritos e andar para lá e para cá.

Os cinco assistentes acham tudo genial, hermético e avançado; depois do espetáculo vão para o camarim enlouquecidos e no fim saem todos juntos para jantar em um bastantão qualquer e fazer comentários perfeitamente idiotas.

Que depois são publicados no Caderno de Cultura de Zero Hora.

E está completo o ciclo de mais uma obra de arte dos pampas.

Já falei sobre este estranho fenômeno cultural.

Como hoje tem jogo do Grêmio, encerro aqui minha participação.

Boas noites.

 

Terça-feira, 25 de março de 1997, 17:33, tempo ótimo, esfriando.

 

Sábado, domingo e segunda sem comparecer mas também sem maiores novidades.

Domingo, substituindo o tradicional churrasco, Heloisa fez um almoço muito bom com a presença de todos exceto os Tergolinas que agora passam o fim de semana no Imbé mobiliando a casa nova.

Ao que consta, o Tergolina irá tirar uns dias de férias lá pelo Imbé.

Pena que já esteja esfriando.

Domingo, no almoço, entre debates sobre o Príncipe Charles e Camila Parker, estabeleceu-se uma dúvida se o Carlos festejou seu aniversário ano passado ou se estava em vilegiatura.

Recomendei consulta ao registro referente de 996 onde, certamente, deverá constar o que aconteceu.

O comentário diz que era público e notório que o Dr. Barrios, no seu aniversário, dia 28 de março, iria para Buenos Aires ou USA.

Acontece que o referido senhor não só não viajou como ainda ficou na moita na mansão da Coroados.

Dia 28 como costuma fazer, Heloisa telefonou para cumprimentar a Patrícia pelo aniversário do Carlos e aí ficou sabendo do enredo.

Patricia tentou salvar a pátria convidando para que fossemos jantar fora mas, como seriam mais de 23:00h, pareceu-nos um pouco tarde e agradecemos.

Fica portanto esclarecido o affaire aniversário/96 do Carlos que este ano tende a repetir-se apenas substituindo-se USA e Buenos Aires pôr uma mais modesta Curitiba.

Recomenda-se portanto que dia 28 as partes telefonem de tarde para a Coroados e, habilmente consultando a  Ana, descubram o paradeiro do aniversariante; se estiver em Porto Alegre, recomenda-se um assalto conjunto às dezenove horas – para deixar bem clara a intenção de jantar.

Caso em que será servido o  seguinte cardápio: salada de massa, arroz à grega e escalope de búfalo.

Sobremesa: torta de claras fossilizadas. Café.

Bem.

Ontem esteve o Napoleão para o clássico chimarrão e debates sobre “Uma Breve História do Tempo “do Stephen Hawking.

Não chegamos a nenhuma conclusão mas o Napoleão ficou muito entusiasmado com o fato de eu ter escrito ao Hawking e ele ter respondido através de seus acessores eis que pessoalmente ele não consegue escrever devido à sua doença.

Na verdade nem me lembro mais o teor da minha  carta mas penso que foi sobre pressão da luz.

Vou ver se acho a file.

Sexta feira o Grêmio ganhou dos peruanos de 2 x 0 e hoje joga contra os aratacas e decerto irá ganhar de novo. Lá no Ceará, o Grêmio estava ganhando de 3 x 1 mas foi tanta a roubalheira que acabou o jogo em 3 x 2.

Hoje decerto enfia um saco nos cabeças – chatas.

O gesso vai indo e Agora só faltam duas semanas.

O Pinho também apareceu com um pedido para que eu o executasse judicialmente com a finalidade de garantir um apto. que tem aqui em POA.

Além de não ser o caso, o fato poderia constituir-se em fraude a credores assim que desta vez, não pude atendê-lo.

Heloísa fez hoje biometria (?) com o Jorge prá dimensionar a lente que irá substituir seu cristalino quando da operação de catarata.

Esperemos que dê tudo certo: tenho confiança no Jorge porque ele é um ótimo artesão e a operação de catarata, ao final, é um trabalho artezanal.

Se fosse o Afonso já o pressuposto teria que ser diferente.

 

Quarta-feira, 26 de março de 1997, 18:18h, tempo bom.

 

A partir de hoje, faltam duas semanas para retirar o gesso, parcialmente.

Ufa!

Ontem telefonou a Lucia e, en passant, informou a Heloisa que o remédio que ela toma para o estômago pode ser a causa de sua inexplicável catarata.

Nunca se deve usar o desagradável argumento “Eu não disse? “mas a verdade é que alertei Heloisa sobre remédios novos, em especial destes que agem sobre o liquido estomacal.

A mesma Heloisa que vem sendo alertada há um ano para retirar sua poupança do Bamerindus que acaba de sofrer intervenção. R$10.000,00.

Um deja vu que lembra o episódio da Alda no Sulbrasileiro e que a prejudicou demais.

C’est la vie.

Quem também está procurando muita sarna par se coçar é o nosso prefeito burro que acaba de assinar um pré-contrato para construção do Crista Shopping.

Conheço e muito bem os pintas que estão tocando o negócio e são uns baitas duns picaretas.

Irão levantar grana dos pretendentes à lojas e aí se mandam sem fazer nada.

O Pont está arrumando um problemão mas, merece: O Tarso foi cercado pêlos “empreendedores “durante uns dois anos mas não entrou na deles.

A verdade é que, sem inflação, as coisas mudam completamente; era muito fácil comprar a prazo e vender à vista ou então operar somente com receitas financeiras, remunerando a dez os depositantes e cobrando vinte dos tomadores.

É pôr isto que a Ana, grande empresária do ramo das confecções, voltou a fazer massagens.

Ainda vai levar um tempo para o povo aprender a viver sem inflação.

De um modo geral, há queixas de todos os quadrantes; a Graça nos disse que não está mais conseguindo alcançar as despesas que tem porque diminuiram sobremodo as operações plásticas.

O mais importante porém é que a distribuição de renda nacional, está melhorando.

Quero dizer que os primeiros governos militares orientavam suas ações econômicas buscando melhorar a distribuição da renda nacional mas não conseguiram.

Lembro que o Langoni, um desconhecido, foi nomeado Ministro da Fazenda porque era o especialista da Getúlio  Vargas no assunto.

Pessoalmente, terei que fazer reajustes no modus – vivendi porque também gasto mais do que ganho e faz tempo que estou queimando reservas.

Bem.

O povo já está se preparando para a Páscoa; ao que tudo indica somente os Tergolinas irão para o Imbé aproveitar a casa nova, o que seria de se esperar.

O tempo tende a esquentar e a praia é uma boa pedida.

Aqui em casa, o bacalhau já está de molho.

Aliás um bacalhau muito bonito que merecia um forno.

Lucia informou que eles pretendem dar uma chegada aqui em abril; espero estar caminhando melhor paara acompanhá-los no turismo local, Gramado, Imbé, Livramento, estes babados.

Se bem que a dupla não é de muitos agitos e têm tantos parentes a visitar que acabam nem saindo de Porto Alegre.

Se vierem.

Sexta feira é o aniversário do Carlos; amanhã o Banda, não posso esquecer porque o guaipeca é infalível.

Hoje telefonou o Monik pedindo novamente os valores de indenização do Braadesco e informando que amnhã os recibos estarão prontos.

O Monik deve estar bem de grana porque afinal são quase mil pilas e levou uns quinze dias para mandar os recibos.

 

 

 

 

 

Quinta-feira, 27 de março de 1997, 18:45h, tempo ótimo.

Hoje está um dia lindíssimo e certamente as pessoas estão saindo para fora.

Penso que existam muitas pessoas que vivem em Porto Alegre mas cujas famílias vivem em algum sitio tranquilo do interior; penso também que esta época, mais que o Natal ou fim de ano, é a melhor para voltar para casa.

Há pessoas – são a maioria – que lembram os verões da infância; eu lembro os outonos.

A novidade hoje é que a Isinha, antes de ir para a praia, deixou aqui “O Carteiro e o Poeta” para que eu visse.

Ë um excelente filme mas bom mesmo é o trabalho do ator que faz o carteiro: é fantástico. Sabe-se que ele morreu uma semana depois de concluir seu desempenho e até isto faz sentido.

No filme o personagem transmite a sensação de cansaço, desesperança, fim de jornada e, foi justamente o que aconteceu.

Sempre relutei em ver o filme porque minha opinião sobre o Neruda não é das melhores.

Ele era um turco safado, argentário mas com um incrível domínio das palavras.

No entanto, foi venerado pelas idéias e não pelas palavras e daí a minha má vontade: o  cara não era íntegro.

E, se levarmos em conta somente o uso das palavras então há muitos melhores do que ele.

Acontece que dizia-se comunista e aí funciona a famosa patrulha ideológica.

Já falei sobre isto, destacando Gabriela Mistral.

Mas, o filme é excelente, sem dúvida.

No mais tudo tranquilo: os Tergolinas foram para o Imbé e amanhã faremos um grandioso bacalhau

com a presença dos Barrios, dos Fietz e talvez da turma do Bolão porque não sei se a Liege vem hoje ou amanhã.

Heloisa está chamando para o café que hoje conta com a presença da Helena.

Se eu não retornar, boas noites.

 

Terça-feira, 1 de abril de 1997, 10:42h, tempo ótimo.

 

Realmente o tempo tem estado ótimo; se eu não estivesse engessado, certamente teríamos aproveitado muito melhor este fim de verão e início de outono.

Pena!

Semana que vem se tudo correr bem, me livro de, pelo menos, dois terços do gesso.

Tivemos churrasco no fim de semana, feito pelo Bolão e bastante bom. O Paulo trouxe picanhas e um vazío excelente.

Os que foram à praia informaram que o mar estava azul, uma loucura.

O Dr. Barrios voltou e está empolgado com um negócio de seguros; andei colhendo informações sobre os pátrias envolvidos e a informação não é boa. Devo recomendar ao Carlos que não se envolva.

Aliás, penso que médico – principalmente no caso dele que é um profissional muito bem sucedido- só deve dedicar-se à medicina.

Seguros ou camarões não são boas opções.

Todos – todos – os médicos que conheci e que resolveram derivar, deram-se mal.

Concluí o questionário para o assistente técnico da Enilda que virá buscá-lo hoje de tarde.

O caso dela é bastante difícil no que concerne aos aspectos técnicos mas talvez consiga safar-se porque a obra foi feita de modo totalmente irregular.

Domingo aconteceu um fato inusitado: a gata Candelária, uma porcaria libidinosa que dá cria a cada três meses, estava com quatro gatinhos novos.

A gurizada ainda brincou com eles e até a cachorrinha da Virginia, a Branquinha andou farejando os gatinhos.

E aí, eles desapareceram!

Pensou-se inicialmente que o Bolão teria dado um sumiço nos felinos – o que seria ótimo – mas não foi o caso.

Penso que a gata, assustada com os guris e com a  Branquinha transportou-os para outro local e acabou perdendo-os.

Pôr enquanto permanece o mistério.

Heloisa foi ao centro hoje de manhã e certamente irá dar uma chegada no Mercado para ver as reformas.

As opiniões divergem de modo extremado: uns acham que ficou uma porcaria e outros dizem que está maravilhoso.

Da última vez que estive lá não achei grande coisa mas se pensarmos em termos de Mercado Público, está ótimo.

Dos que conheço, é o melhor, mais limpo e mais amplo.

Não sei quem foi que esteve aqui e fez elogios maiores ao Mercado de Santo Domingo.

Realmente a variedade de produtos em oferta é grande e prevalece o pitoresco mas, em matéria de sujeira e bagunça aquele Mercado é imbativel.

Visitamos também um Mercado em  St. Louis e era uma porcaria inominável.

O de Santiago do Chile – já registrei antes – é uma droga.

Os do nordeste são o fim da picada mas não conheço o novo de Salvador.

Dizem que o de São Paulo é excelente: não conheço.

Acho que no Rio não existe um mercado como nos o entendemos.

Assim que o de POA/PT está bem no ranking.

Falando em PT, até que dá para entender porque El Cachorron Pont fez cara feia(?) para a GM.

Acontece que logo teremos quatro enormes industrias nos alderredores de POA: a GM, a Brahma, a Souza Cruz e a Coca-Cola.

Com elas vêm os terceiros que serão muitíssimos, um monte de fornecedores de componentes, serviços etc.

É ilusão pensar-se que tais personagens irão instalar-se e viver independentemente de Porto Alegre : no fim, vira e mexe e as coisas acabam acontecendo aqui.

Ora, o nosso tráfego já está saturado, o povo está reclamando uma barbaridade e o PT não vai ter tempo para minorar os problemas decorrentes.

Claro que a culpa é deles que, durante oito anos, ficaram pintando meio fio e botando luz em vilas e pôr isto penso que na próxima eleição o PT não leva de barbada.

Tem mais: se eles fizerem o acôrdo que o Brizola quer, aí sim é que irão para o brejo.

E o Brizola e o Lula vão juntos procurar a vaca.

Inegavelmente, poucas pessoas terão ajudado tanto o conservadorismo brasileiro como o Brizola.

Até dá para entender porque ele é, ao mesmo tempo, maragato e pica-páu ou seja, Silveira Martins e Julio de Castilhos via Getúlio.

Voltando a um velho tema, costuma-se dizer que os gaúchos preferem esquecer a revolução de 93 devido à barbarie que lhe foi inerente.

Até pode mas não é bem assim: acontece que foi uma revolução sem objetivos, sem programa e, mais do que isto, incoerente.

O que queriam, afinal, os maragatos?

Diz-se que eram federalistas mas Silveira Martins era conservador e queria D. Pedro II de volta, mesmo que presidente da república.

Dos pica-páus diz-se que eram centralizadores e ditatoriais mas o seu líder, Julio de Castilhos foi quem, praticamente, implantou a república no Brasil, via uma propaganda inteligente, feroz, tenaz e ampla.

Dá para entender?

Claro que não dá e assim 93  resta como uma terrível demonstração de barbarie sem o menor fundamento.

Degolar pôr degolar, para satisfazer vaidades pessoais.

Pior do que Canudos.

Tão ruim que até hoje não apareceu nenhum escriba para fazer o seu registro.

Aliás, nem o degolar ficou como marca registrada de 93: no fim, os beneméritos adotaram a variante de estripar, obrigando o paciente a caminhar um eito arrastando a buchada pelo campo!!!

Cidadãos muito criativos.

Já contei que a cabeça salgada do Gumercindo foi esquecida pôr seus portadores, dois médicos do interior, debaixo da cama, no antigo Grande Hotel, bem defronte à Praça da Alfandega?

Pois é: os tais pegaram a cabeça do Gumercindo, puseram dentro de uma caixa de chapéus e levaram-na para o Julio de Castilhos, no Palácio: eles queriam que o Julio fosse para a sacada mostrar ao povo o troféu.

Como o Julio – após pensar muito- achou que poderia pegar mal, eles ficaram p. da vida, voltaram para o Grande Hotel, jogaram a caixa de chapéus com a cabeça debaixo da cama e se mandaram a la gran puta.

Sei de muitos outros casos que se desenvolveram de modo bem menos elegantes do que o narrado  porque, afinal, nesse, os personagens todos tinham curso superior, gente finíssima!

E ainda dizem que vivemos numa sociedade violenta!

É bom saber que, depois de 93, o Rio Grande do Sul se despovoou porque quem fosse maragato emigrava para todos os lados: Uruguai, Mato Grosso, Paraná etc. uma diáspora desesperada.

Os que ficaram, com um pouco de sorte, eram degolados.

O estupro, a castração, o confisco, a degradação pública, o assassinato cruel, foram parte do quotidiano pós- 93

 

 

Santa Catarina não era seguro porque os vencedores iam até lá e faziam verdadeiras razias, liquidando populações inteiras.

Isto ainda aconteceu em 1904, iniciativa patrocinada pôr um Paim. lá da Vacaria.

Boas notes.

 

Quarta-feira, 2 de abril de 1997, 17:02, tempo nublado, quente.

 

Na próxima quarta feira, esperemos que seja removida a parte superior do gesso!

Devagar vamos.

Hoje está sendo um dia normal, até a Heloisa se aventurou a ir ao chá; na verdade, a não ser um imprevisto, já adquiri uma relativa autonomia.

O importante é que não haja superfícies escorregadias onde a muleta possa falsear porque aí a coisa complica; ainda não dá para levar um tombo e forçar a sutura do tendão.

No mais, tudo em ordem.

As notícias do Rio é que não são muito boas: a Zilda está com um problema no joelho e os primeiros exames são preocupantes. O Carlos encaminhou o Alemão para o Daniel Tabac o que, pelo menos dá tranquilidade quanto à certeza do diagnóstico.

Esperemos que não seja nada grave.

Falei com o Fedoca sobre a cirurgia da Heloisa, catarata, e ele concordou; ficou um pouco espantado do Jorge poder operar aqui mas expliquei que o Corrêa Maier daria cobertura.

Está marcada para o dia quinze de abril, no Moinhos o que é bom porque a Patrícia e o Carlos podem dar assistência.

Como se depreende, o veiedo começa a criar casos na área de saúde.

Ainda bem que, no concernente, estamos bem assistidos.

O povo anda desaparecido, ninguém apareceu ainda esta semana. O Pingo que normalmente vem almoçar nas quartas feiras, hoje não deu sinal.

O Angelo, com aulas de manhã, sumiu totalmente o que é normal porque as tardes são para jogar futebol.

Falando nisto, hoje o Brasil joga contra o Chile o que é uma piada e um caça- níquel, a seleção do Chile é fraquissima, o perigo é o coice.

Os caras ainda não engoliram aquele famoso episódio do goleiro que simulou um ferimento com um foguete e que tirou o Chile da Copa do Mundo, se bem que eles não iriam mesmo.

Acontece que o goleiro era um ídolo, El Condor não sei das quantas e a sua condenação gerou muita repulsa no Chile.

O condor, para quem não sabe, é um urubu grande que se alimenta de carniça.

Tive oportunidade de ver alguns voando quando fizemos a travessia dos Andes pêlos lagos.

Acho um tremendo mau gosto eleger um urubu como ave nacional.

Não lembro se o Brasil escolheu alguma ave como símbolo menor.

Uma época andaram falando no colibri mas iria ficar meio chato.

Um colibri enfeitando o uniforme daqueles PM de São Paulo que fazem a segurança em Diadema, não seria muito condizente com a realidade.

Estou me referindo ao atual assunto nacional: o filme que fizeram do modo de como os PM de São Paulo tratam os contribuintes.

Mesmo contrariando grande parte da opinião mundial, quero dizer que, antes de linchar, é preciso estabelecer o contraditório.

Há uma série de circunstâncias que devem ser analisadas.

Para diminuir a criminalidade, as PM procuram constituir-se numa tropa muito bem selecionada e melhor treinada: os caras são preparados para combater malfeitores que, a cada dia, estão melhor armados mais violentos. Certamente assim que o inimigo é descrito para os PM.

Eles não são mais preparados para lidar com grevistas, batedores de carteira ou ladrões de galinha: são alertados de que irão enfrentar assassinos frios, cruéis e muito bem armados e que suas vidas podem depender de quem atirar primeiro.

Recentemente, houve uma série de crimes em São Paulo que horrorizaram todo o mundo e a cidade está violentíssima.

Aí, os cidadãos clamaram pôr pena de morte, mais policiamento, mais energia da policia etc.

Certamente a policia recebeu diretrizes para engrossar mas, quando o faz, os dereitos humanos caem de pau em cima deles.

É difícil.

Quem está p. da vida é o pessoal da CPI dos precatórios que saiu das manchetes.

Uma notícia que me chamou atenção refere-se a uma publicação dos Direitos Humanos Internacionais que acusam as PM de todos os estados brasileiros de serem violentas, fazendo exceção para a Bahia!

Ora, todo o mundo sabe que a Bahia era um estado onde a ladroagem e a malandragem tinham vida tranqüila até que Toninho Malvadeza foi eleito governador e simplesmente acabou com a  farra usando o método direto, a solução final, antes apregoada pêlos nazistas.

Foi daí que derivou o apelido de Malvadeza.

E agora esta de que na Bahia os meganhas estão mais para Scotland Yard do que para Esquadrão da Morte!

Só se o Toninho fez uma limpeza tão grande que irá levar uns vinte anos para surgir uma  nova geração de bandidos.

O que não é de duvidar, inclusive porque o Sotto, atual governador, não é senão um capanga do Toninho e deve continuar com a mesma política do cacique.

Se for assim, cumpre reconhecer que fazem bem feito.

Como foi a Globo que deu o furo da violência policial, exibindo no Jornal Nacional de anteontem o filme em que tudo foi registrado ( possivelmente encomendado pela própria Globo) e como a repercussão foi mundial, ainda teremos muita fofoca a respeito.

Os policiais realmente exageraram e as cenas são chocantes; quem as vê fica horrorizado.

Mas há que pensar bem.

Massacrar os policiais pode resultar em que os outros se omitam e aí quem sai ganhando são os bandidos.

Parece-me que o mais necessário é definir o que pensa o país a respeito da criminalidade.

Estamos numa guerra urbana?

Então vamos agir como numa guerra, onde o objetivo é destruir o inimigo. Os pressupostos já estão todos respondidos e analisados.

Se porém o país acha a criminalidade tolerável e se trata apenas de chamar à razão os infratores

sendo a culpa do próprio país, então mudemos tudo, fechemos as policias e criemos um forte serviço de aconselhamento e assistência social.

O problema reside na indefinição.

Bem.

Creio que pôr hoje é só.

Boas noites.

 

Sábado, 5 de abril de 1997, 17:35, tempo bom, fresco.

 

Os dois últimos dias estivemos promovendo umas melhorias neste aparelho e pôr isto não compareci.

Acabei comprando uma Winchester bem mais ampla, 1,7 G porque já estávamos no limite; se dependesse de mim, haveria grande sobra mas os tais joguinhos entopem tudo.

Agora também o Bolão resolveu batucar pôr aqui e, como ele não tem muita prática, o HD estava muito desorganizado.

Ainda não instalamos o HD novo o que acontecerá, eu espero, na segunda feira.

Ontem falei pessoalmente com a Zildinha e o que ela me disse – e o modo como me disse – foi surpreendente: ela sabe perfeitamente a extensão do que está acontecendo e está calma e segura de si.

Se for como a Zilda me narrou, o caso é muito sério mas ainda faltam alguns exames.

A Zilda é valente, muito valente.

Aguardemos; preciso conversar com o Carlos a respeito.

Ontem tivemos o joguinho das sextas feiras e foi impressionante como as gêmeas e a Meneca jogaram mal.

Acho que elas têm jogado muito entre si e quando vão para parcerias, é um desastre.

Canastra, ao contrário do poquer, joga-se na mesa, esta é a regra fundamental.

Ganhou a Heloisa.

Ficou assentado que os próximos jogos serão a dez reais pôr nariz; no momento é cinco e joga-se quatro a cinco horas para ganhar-se, no máximo, dez pilas.

É muito divertido, mesmo de graça mas é bom acrescentar um pouco mais de emoção.

Ontem também conversei com o Monik e ficou assentado que quarta feira ele irá retirar grande parte do gesso.

Ainda não entendi direito como ficará o negócio mas parece que ele irá colocar um saltinho ou algo assim.

Ele acha que devo fazer umas duas semanas de ginástica para reativar o joelho mas penso que não será preciso.

Agora à noite acontece a segunda festa de aniversário do Pablo e a Heloisa está se preparando para ir.

Vai ser um churrasco no colégio e, pelo planejamento original, o assador seria eu.

Ontem o problema avultava porque o Carlos estava em S. Paulo, o Tergolina no Imbé e o Paulo em Criciuma. Hoje, porém os itinerantes já retornaram e neste exato momento devem andar às voltas com espetos, picanhas e coraçõesinhos.

A  festa está prevista para acontecer das seis às nove horas, sem delay porque segue-se outra.

O aniversário do Pablo já foi festejado na praia com uma festa muito bonita e hoje é um replay para os colegas do colégio.

Amanhã o Pingo completa dezoito anos mas até agora não veio nenhuma comunicação a respeito.

Se depender do personagem central, nada será feito.

Provavelmente ele irá festejar junto com a Frau, lá em Cachoeirinha.

O Pingo está na idade em que pais, avós e alguns parentes são pessoas que não podem ser expostas ao público em geral porque são extremamente vexaminosos.

É sempre assim.

O João instalou um microfone aqui no computador que irá servir para falar em viva voz pela Internet quando eu resolver aderir à novidade.

Pôr enquanto, estou na encolha.

Agora, o próximo passo, é instalar uma placa de imagem: aí, os interlocutores não só se falam como se vêm.

Estamos chegando nos seriados do Flash Gordon, quem diria.

Antigamente – não tão antigamente – as pessoas que desejavam entabolar uma relação romântica, comunicavam-se pôr cartas e havia sempre o inefável mistério de como seria o beletrista.

Qualquer revistinha suburbana tinha uma seção de cartas na qual as partes declaravam que queriam correponder-se com pessoas dos sexo oposto para fins ditos eivados de boas intenções.

Carta para cá, carta para lá, nhem, nhem, nhem, nhem, marcava-se o encontro ansiosamente esperado.

Pelo estilo litera’rio, o marmanjo teria o aspecto de um atleta olímpico e a malher, de um catálogo americano.

Geralmente o conhecimento pessoal acabava em grossa desilusão: o masculino era feio, gordinho e careca e a feminina um tremendo bagulho, jacaré com cobra d’água..

A coisa agora fica menos romântica mas certamente os envolvidos perderão menos tempo, latim e selos.

Ainda vivemos o tempo em que os judeus aqui de POA casavam-se pôr escolha dos pais, sem que os participantes principais se conhecessem.

Lembro do casamento da Fani, uma amiga da Saara que casou assim com um tremendo malandro, boemio, tocador de gaita de boca e inimigo do trabalho.

A gente sempre imagina que judeu é um cara chato, compenetrado, de óculos, tentando ganhar dinheiro e escondido atrás de qualquer coisa: um balcão, uma máscara cirúrgica, um escritório fechado.

Mas há também os malandros, boêmios, chegados na noite.

Em Porto Alegre, o maior representante da espécie é o dono da fábrica de móveis Santa Cecília..

Voltando ao tema, a  Fani conseguiu formar uma bela família, trabalhando duro enquanto o pinta de divertia; mas, pelo menos era um bom sujeito que não arreliava ninguém e, pelo contrário, divertia a todos com sua ojeriza ao trabalho e sua gaita de boca.

Chamava-se Simão.

Morreu fazem uns três anos e a Fani continua com sua loja de móveis no Bonfa o Empório Americano de Móveis.

Também a Sarita Knijnik, colega da Heloisa, uma criatura agradabilíssima, frágil, fina, rica, culta, casou pelo velho sistema com um camarada que ela nem conhecia:  Lulu Scatrut, bom sujeito, muito meu amigo e também amigo do pai de quem fora office boy mas que era tão afim com a Sarita como um espeto para um balão de aniversário.

Foi um bom marido para a Sarita mas a história deles não é uma comédia como a da Fani.

Creio até que já contei a morte trágica do Lulu porque ocorreu no mesmo dia em que voltávamos do Uruguai e bem perto de onde andávamos.

Ressalto que o que aconteceu com a família deles não foram problemas relacionados com o casamento mas doenças e  acidente.

Bem.

Heloisa acaba de sair com o Paulo para a festa de aniversário: a minha janta hoje será mais tarde.

Amanhã não faremos nada de especial no almoço porque ninguém aguenta dois bródios seguidos.

Se o povo vier, come-se o que tem ou reforça-se com pizza.

Talvez comida chinesa.

Vou aproveitar que estou com tempo de sobra para algumas fofocas.

Ao que tudo indica, o Vares e a Meneca já estão cheios com as gemeas; acontece que elas grudaram no pé deles e como grudaram.

Na viajem ao Chile eu sentí o problema e falei para Heloisa que aquilo não iria dar certo mesmo as gemeas sendo as excelentes pessoas que são.

Todo o mundo tem que ter a sua privacidade e a invasão permanente do nosso circulo de segurança, conduz ao stress e à repulsa.

É aquela velha tese: todo o animal, mesmo o macaco nu, tem uma área em torno dele em que é perigoso ingressar.

O Vares é um emocional pôr excelência: qualquer dia ele explode o que costuma ser muito feio.

Será uma pena porque as gêmeas queimaram os navios quando decidiram vir morar em Porto Alegre.

Isso vai terminar numa situação difícil de resolver.

Interessante como as pessoas não aprendem: queimar navios é uma opção que só se adota quando não há mais nenhuma outra possível.

Penso que todos precisam ter um lugar para onde imaginem voltar quando as coisas não vão muito bem.

Às vezes é uma fazenda avoenga, uma casa com velhos cheiros de infância, até mesmo uma cidade hospitaleira onde um dia vivemos felizes.

Durante o tempo de Exército, sempre sonhei em ter um lugar para onde voltar.

Acho que agora tenho e meus filhos também.

O que é bom.

Voltemos ao quotidiano.

São oito horas de la noche e vou ver o Jornal.

 

Sexta-feira, 6 de junho de 1997, 18:54h., tempo chuvoso.

A partir de agora, vou tentar lembrar o que aconteceu de importante nos meses de abril e maio eis que, como sabemos, os arquivos referentes estão inabríveis, se é que existe tal palavra.

São trinta e poucas páginas mas se eu conseguir reescrever umas cinco, já estarei satisfeito.

Na verdade, há muita trova nestes registros mas, sempre que possível, informativa

No que me concerne, passei os dois meses engessado assim que pouca coisa há para contar.

Vejamos no âmbito familiar.

Em abril tivemos dois aniversários marcantes: os dezoito anos do Pingo e os quinze do Angelo.

Quanto ao Pingo, não pude comparecer às festividades porque estava no auge do gesso mas Heloisa foi assim que estávamos plenamente representados.

Festinha íntima.

O aniversário do Angelo coincidiu com o jogo do Grêmio contra o Flamengo e ele – óbviamente – preferiu ir ao campo.

Semana passada o Tergolina fez uma feijoada para comemorar conosco o aniversário.

Neste período aconteceu também a enfermidade da Zilda que acabou em cirurgia muito delicada para colocar uma prótese no joelho e perna direita.

Heloisa foi para o Rio de onde voltou terça feira dia 26 de maio.

Viajou de onibus que ela afirma adorar porque consegue dormir durante todo o tempo.

Patrícia andou pelo Havai e Carlos esteve em Denver: na volta, roubaram-lhe o conteúdo das malas.

Na referida mala vinha um par de sapatos Scholl para mim.

Penso que foi em inicio de abril que o Jorge operou a catarata da Heloisa e da mãe com grande sucesso.

Também a falência da Mernak.

A vitória do Grêmio na Copa do Brasil, os escândalos das arbitragens de futebol, o escândalo da compra de votos na Câmara Federal, o escândalo dos precatórios, da casa do Lula etc. etc.

Escândalo tem de montão.

Aqui no RS instalou-se finalmente a General Motors e o PT, desesperado começou a fazer uma onda terrível contra a GM e contra a evidência e o bom senso.

PT está apostando no Shopping do Cristal mas nem imagina onde se meteu: aquilo é um covil de picaretas e não vai sai nada.

Isto eu previ nos arquivos perdidos, que o PT iria se ralar no Shopping Cristal e não deu outra: neste momento, um episódio envolvendo o Helio Corbelini, um expoente petista, está rachando o partido. As acusações são de corrupção.

E o rolo recém está começando; acho até que figuras como Tarso, Fortunati e outros, ditos moderados, poderão sair do PT. É uma hipótese remota mas existe.

Bem, vou tomar um café: não pretendo jantar mais porque me descuidei e já engordei um eito.

E aí a coluna passa a incomodar.

Boas noites.

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